Governantes, empresários e homens ligados ao campo trocaram pontos de vista sob o lema "Agricultura familiar e o seu contributo para a segurança alimentar sustentável", nalguns casos com esclarecimentos convincentes. Noutros, as dúvidas e indecisões acalentaram os debates. Maria Priscila Teles é uma mulher que há muitos anos empreende no sector agrícola na municipalidade do Kilamba Kiaxi, em Luanda.

Diz-se injustiçada por falta de meios para chegar às suas duas áreas de lavoura, pois hoje não consegue produzir por escassearem apoios financeiros. "Falta-me quase tudo. Desde sementes a instrumentos para lavrar a terra. Investi 28 mil kwanzas no aluguer de um tractor para desmatar a terra. Nesta época agrícola houve pouca chuva e perdi todo o cultivo", lamentou a mulher ao intervir numa das sessões do encontro.

Avançou mesmo que muitos produtos agrícolas vendidos na praça do Catinton, arredores de Luanda, provêm de lavras situadas junto dos canais de drenagem, cuja água putrefacta alimenta as plantações, o que pode estar na origem de problemas de saúde a quem consome, quando em causa está a segurança alimentar.

Outro interveniente no fórum foi o deputado do partido maioritário, MPLA, Francisco Cortês que, entre outras questões, apontou a apropriação das terras dos agricultores, sobretudo no meio rural, por parte daqueles que denominou "novos abutres" que nos últimos tempos proliferam no país. "Ali onde está o agricultor não está o regente agrícola, não estão aqueles que podem orientar nas campanhas agrícolas", lamentou Francisco Cortês, que apelou os governantes para uma maior sensibilidade diante dos problemas que afectam o campo.

Por seu lado, o antigo agricultor do Kuando Kubango, José Severino alertou para a gravidade da situação de seca em Angola, agravada com a exploração desenfreada de lenha e carvão, sem que haja reflorestação, como sucedia na época colonial, especialmente ao longo dos caminhos-de-ferro. "Queremos aqui encorajar os ministérios da Agricultura e do Ambiente a persuadirem os cidadãos a entenderem que as florestas devem ser preservadas e não servirem apenas de fonte de sustento, para que tenhamos chuvas abundantes e, com elas, o aumento da produção agrícola", salientou José Severino.

O também presidente da Associação Industrial de Angola (AIA) sublinhou que a nova Pauta Aduaneira está a agravar a importação de veículos pesados usados que bem poderiam estar envolvidos na actividade agrícola no meio rural, uma vez que os camiões novos dificilmente são enviados para essas áreas. "Seria bom retirar os impostos aos camiões antigos, porque são esses meios que vão para o interior e não os novos", rematou.

Numa alusão à produção de cereais em Angola, o líder associativo considerou baixo o rendimento, porquanto o país está a produzir apenas 10 por cento, sendo por isso necessário elevar a produção, passando para o percentual 25. Ao mesmo tempo defendeu o aumento da produção de calcário para a correcção dos solos, de forma a torná-los aráveis e mais produtivos.

Ao dissertar sobre o tema "A agricultura familiar e o seu contributo para a segurança alimentar", o ministro da Agricultura, Afonso Pedro Canga, referiu que o Programa Agrícola de Campanha absorveu 350 milhões de dólares investidos no relançamento da produção, que registou algum declínio devido à estiagem que afectou o país.

Entre os resultados obtidos na produção de cereais, 2009 e 2010, foram alcançadas 1.177.944 toneladas, evoluindo para 1.408.826 toneladas no período 2010 e 2011. Esta cifra decresceu entre 2011 e 2012, para 505.706 toneladas.

No período 2012 e 2013 subiu para 1.671.384 toneladas, crescendo depois para 1.820.348 toneladas entre 2013 e 2014. Enquanto isso, a produção de leguminosas e oleaginosas de 2009 e 2010 foi 371.368 toneladas, passando entre 2010 e 2011 para 472.380 toneladas.

Entre 2011 e 2012 denotou-se significativa quebra (168.731 toneladas), voltando a subir entre 2012 e 2013 para 514.042 toneladas e a atingir já as 667.743 toneladas entre de 2013 e 2014. Nas raízes e tubérculos a produção entre 2009 e 2010 cifrou-se em 15.686.523 toneladas, em 2010/2011, 16.219.865 toneladas, em 2011/2012, 11.935.414 toneladas, em 2012/2013, 18.281.559 toneladas e, em 2013/2014, 10.239.302 toneladas.