Entre 04 e 10 de Junho, o barril de Brent manteve-se teimosamente abaixo dos 80 USD, chegando mesmo a bater nos 77 USD no inicio deste ciclo negativo alimentado por uma mal comunicada estratégia da OPEP+ para sair do seu já longo programa de cortes na produção.

Mas não foi apenas o anúncio desse plano do "cartel" que manteve a a referência principal para as ramas exportadas por Angola em águas turvas e com dificuldades em respirar, foi igualmente uma fugaz perspectiva de cessar-fogo em Gaza e dados económicos globais dúbios.

Porém, agora, como o demonstram esta recuperação no valor do Brent, a perspectiva está claramente em mudança e, como nota a Reuters, impulsionados pelos dados da agência para a energia norte-americana e pela OPEP, os mercados voltaram a esverdear.

Para esse regresso ao verde, estando esta quarta-feira a valorizar, perto das 11:00, hora de Luanda, mais de 1%, para os 82,86, contribuiu ainda o novo quadro dos dados sobre a produção industrial nos EUA e na China, além de uma queda perturbadora nos stocks dos EUA.

Além disso, a Agência Internacional de Energia amentou o seu Outlook para o crescimento da procura por crude em 2024 de 90 mil para 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), enquanto a OPEP, não fazendo alterações à sua perspectiva, manteve-a em alta, muito com as novas expectativas de um crescimento no sector do turismo global nos próximos meses.

O que é uma boa notícia para as contas angolanas

... apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 82 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.