"Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse porque não tem porta quebrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui. Nós vamos com muita calma investigar e ver o que aconteceu de verdade", afirmou Lula da Silva.
O chefe de Estado, que falava num pequeno-almoço com jornalistas no Palácio do Planalto, referia-se à invasão e vandalização do palácio da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) realizada por apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"As Forças Armadas não são o poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. É isso o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição. É isso que quero que seja bem feito", disse Lula da Silva.
O chefe de Estado brasileiro também fez um apoio público ao ministro da Defesa, José Múcio, após críticas recebidas por amplos sectores do Partido dos Trabalhadores (PT) e simpatizantes do Governo por supostamente subestimar os protestos e o acampamento na frente do quartel-general do Exército em Brasília mantido por "bolsonaristas" que não aceitavam o resultado das eleições.
"Ele [Múcio Monteiro] vai continuar sendo meu ministro porque eu confio nele (...) Tenho o maior respeito por ele e ele vai continuar. Se eu tivesse que trocar de ministro toda vez que eles erram, seria a maior rotatividade de mão-de-obra da história do Brasil", ironizou.
"Todos nós erramos. José Múcio vai continuar", concluiu Lula da Silva, que, segundo os "media" locais, já havia informado o ministro da Defesa sobre seu desconforto com a suposta indiferença que teria mostrado com os protestos que acabaram levando as invasões às sedes dos três poderes no domingo.
As dúvidas sobre Múcio, cujo papel conciliador no tratamento com as Forças Armadas foi destacado, datam das semanas anteriores à posse de Luiz Inácio Lula da Silva, quando alguns integrantes do Governo eram favoráveis ?? à expulsão dos que estavam acampados à porta do quartel-general do Exército.
Múcio insistia em que eram manifestações democráticas pois tinha amigos e familiares nesses acampamentos.
Apoiantes do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do STF, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.
A Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram cerca de 1.500 detidos.
A Polícia Federal brasileira informou que cerca de 600 pessoas presas acusadas de participarem nos actos, na maioria idosos com mais de 65 anos, mulheres que têm filhos pequenos e pessoas com comorbilidades graves, foram libertadas para responder em liberdade.
A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira que apoiam o anterior presidente, derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios, na capital brasileira.
Entretanto, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão actuado com negligência e omissão.
Torres é alvo de um pedido de prisão que ainda não foi cumprido por se encontrar em viagem aos Estados Unidos da América.
Justiça pede bloqueio de bens de 59 pessoas e empresas suspeitas de financiar ataque
A Advocacia-Geral da União (AGU) do Brasil pediu hoje aos tribunais o bloqueio de 1,1 milhões de euros em bens pertencentes a 52 pessoas e sete empresas que alegadamente financiaram o assalto, no domingo, aos três poderes em Brasília.
Os defensores do Estado afirmam que estes 59 indivíduos e empresas "financiaram o aluguer de autocarros para os atos golpistas que resultaram na destruição" das sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) por apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O montante apreendido, de 6,5 milhões de reais, seria utilizado para "reparar os danos causados pela depredação de bens públicos, em caso de condenação subsequente", segundo uma nota da AGU, que salienta que o valor solicitado é preliminar, uma vez que os danos ainda não foram totalmente calculados.
A lista de bens solicitados para serem bloqueados inclui "bens imóveis, veículos e dinheiro em contas bancárias", e apenas afecta aqueles que "contrataram os autocarros" que levaram milhares de apoiantes radicais pró-Bolsonaro a Brasília para participar no ataque.
Estes grupos extremistas não reconhecem a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro passado e desde então têm procurado pressionar para expulsar o líder progressista da Presidência e devolver o poder a Bolsonaro, apoiado pela extrema-direita brasileira.
Os defensores do Estado argumentaram que a apreensão preventiva é necessária devido "à gravidade dos factos", porque, "além de prejudicar o património público federal", havia uma "ameaça real ao regime democrático brasileiro", o que exige "uma resposta rápida e eficaz".
O ataque aos três ramos da democracia brasileira durou quatro horas e resultou na prisão de quase 1.800 pessoas, embora quase um terço delas tenha sido libertada por "razões humanitárias".
As investigações estão agora a concentrar-se na identificação dos financiadores da tentativa de golpe, incluindo comerciantes, empresários agrícolas e vendedores de armas das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, de acordo com o ministro da Justiça, Flávio Dino.
O Ministério Público pediu também ao Supremo Tribunal que investigue três deputados pró-Bolsonaro por "incitar" à violência de 08 de janeiro em Brasília.
O Supremo Tribunal retirou também o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, do cargo durante 90 dias, e ordenou a prisão do antigo secretário de segurança Anderson Torres, que era ministro da justiça de Bolsonaro, e do antigo comandante da polícia militar, Fábio Augusto Vieira, pela sua "omissão" nos atos de golpe.