Com repercussão desta crise na imprensa internacional, com destaque para a europeia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Leyen optou por fazer apenas um comentário ligeiro a esta situação portuguesa, aludindo à responsabilidade da justiça de clarificar o grau, ou inexistência, de ligação de António Costa a este escândalo.
Apesar de ser um escândalo, que levou à demissão do chefe de Governo em Lisboa, e a um dos seus ministros à condição de arguido, João Galamba, ministro das Infra-estruturas, além de cinco detidos, incluindo o seu chefe de gabinete, Vitor Escária, e do seu "melhor amigo" e consultor de empresas, Diogo Lacerda Machado, além do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, e dois administradores de uma empresa.
Esta investigação do Ministério Público que não está a deixar pedra sobre pedra no Governo português, assenta em três questões essenciais, a construção de um megaprojecto de hidrogénio verde, em Sines, a abertura de uma mina de lítio, mineral essencial na produção de baterias para veículos eléctricos ou telemóveis, e um data center localizado em Sines, cidade na costa sul daquele país europeu.
Apesar de cinco detidos e um dos seus ministros arguido, António Costa, que está a ser investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça, que tem esse foro no que diz respeito aos órgãos de soberania, não é arguido nem está acusado de nenhum crime.
Depois de rebentar na terça-feira, 07, esta quarta-feira, 8, está a ser palco de elementos preparatórios para uma saída, com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a ouvir os partidos políticos com assento parlamentar, depois terá um conselho de Estado na quinta-feira, findo o qual, nesse mesmo dia, anunciará ao país o que vai fazer.
Em cima da mesa, segundo analistas lusos, está a convocação de eleições antecipadas, dissolvendo o Parlamento, pedir ao Partido Socialista para usar a sua maioria absoluta e indicar um novo Governo, com novo primeiro-ministro, o que levaria à necessidade de convocar um congresso extraordinário em modo acelerado, para escolher novo líder, ou nomear um Governo de iniciativa presidencial para gerir o Estado até à realização de eleições e tomada de posse de um novo Executivo.
O que disse Costa?
Numa declaração ao país, em Lisboa, na terça-feira, António Costa explicou as razões que o levaram a pedir a demissão ao Presidente da República.
Nesta declaração a partir do Palácio de São Bento, a sua residência oficial, o primeiro-ministro português sublinhou que não podia continuar a exercer as suas funções porque a dignidade do cargo de é "incompatível com qualquer suspeita sobre a sua integridade".
Costa disse que estava totalmente empenhado em cumprir o mandato até ao fim e que não lhe pesa na consciência qualquer dúvida sobre a lisura do seu comportamento mas foi "surpreendido" com esta investigação e que "vai ser aberto um processo-crime" contra si, garantindo desconhecer de que possa vir a ser acusado.
"Quero dizer aos portugueses olhos nos olhos que não me pesa na consciência a prática de qualquer acto ilícito ou até censurável", disse e acrescentou estar "totalmente disponível para colaborar com a justiça" em cuja independência confia plenamente.
O ainda primeiro-ministro disse ainda que não tenciona recandidatar-se ao cargo, o que quer dizer que está aberta a luta pela liderança do Partido Socialista, e, até ver, pelo menos assim o entende Costa, não deverá surgir como possibilidade o PR pedir ao PS que avance para a constituição de um novo Executivo, mantendo o Parlamento como está.
Lembrou que não é arguido e pensa não vir a sê-lo, porque garantiu não le pesar na consciência qualquer prática ilegal, notando ainda que uma das grandes vantagens da democracia portuguesa é que os cidadãos têm uma certeza clara de que "ninguém está acima da lei".
"E eu como qualquer outro detentor de cargo político, não estou acima da lei e estou totalmente disponível para colaborar com a justiça", apontou.
"Estou certo de não ter cometido qualquer ilegalidade, mas outra coisa é não achar compatível com o exercício destas funções qualquer suspeita sobre o meu comportamento, mas mantenho-me em funções até chegar o momento de sair dependendo agora do Chefe de Estado marcar eleições", adiantando que Marcelo Rebelo de Sousa aceitou o seu pedido de demissão.