A primeira votação, e o primeiro fumo negro a sair da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, terminou já depois das 20:00, um tempo longo que levou muitos especialistas no local, os chamados vaticanistas, a pensar que o mundo conhecia o sucessor de Francisco à primeira.

Não foi assim e o "rebanho" de 1,4 mil milhões de fiéis católicos em todo o mundo só deverá conhecer o seu novo Pastor ao longo do dia desta quinta-feira, 08, porque, logo ao início da manhã, na segunda votação, também não foi possível concentrar 89 votos de 89 cardeais num nome.

E, no entanto, chegou-se a pensar que desta vez seria mais fácil encontrar o novo Papa, o sucessor de Francisco, porque mais de 80% dos 133 cardeais, de 71 nacionalidades, foram já uma escolha de Francisco, um dos líderes católicos mais carismáticos de sempre e que mais transformou a Igreja globalmente.

Isto, porque seria igualmente de esperar, e ainda pode sê-lo, que estes cardeais que ali chegaram pela mão de Francisco sigam um perfil coerente com as novas ideias, os novos ares, que o "Papa que veio do Fim do Mundo" procurou levar para dentro do Vaticano.

O local deste Conclave, de onde saíra o 267º Papa, é a Capela Sistina, onde sobre as suas cabeças estará, acreditam, o Espírito Santo, e a pintura mundialmente famosa de Michelangelo, inspirada em passagens do Antigo e do Novo Testamento, além do Livro do Génesis e pintada no início do século XVI, de 1508 a 1512.

A tarefa que o grupo cardinalício tem pela frente não é pequena, é a escolha do novo chefe da Igreja Católica que vai liderar um rebanho de mais de 1,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo e uma das figuras mais respeitadas no Planeta, embora esse prestígio esteja, como o Vaticano assume, em declínio.

E é por isso que os novos ventos levados para a Praça de São Pedro por Francisco, o Papa que veio do Fim do Mundo, segundo vários analistas, não podem ser travados agora que a Igreja voltou a arejar o seu interior, apesar da resistência das alas mais conservadoras.

Alas conservadoras essas que nunca deixaram de se opor à procura de Francisco em abrir as janelas da Igreja Católica e tirar o mofo das suas paredes, como ele frisou em Lisboa, numa das suas muitas visitas pastorais, para que "todos, todos, todos" possam entrar, procurando um lugar para o universo LGBT+, divorciados, reforçando nela o papel da mulher...

O interesse da escolha de um novo Papa é sempre mostrado pela cobertura mediática desses momentos, e desta feita não é menos, pelo contrário, está a superar outras ocasiões similares, com mais de 2600 jornalistas creditados no Vaticano para acompanhar a sucessão de Francisco e esperarem pelo momento em que saíra fumo branco da chaminé da Capela Sistina.

A escolha do novo Papa é ainda de importância substantiva pelo momento historicamente instável que o mundo atravessa e para o qual sempre se espera uma palavra do Sumo Pontífice como voz de moderação e de estabilidade.

E se as escolhas de Francisco para o seu "exército" de cardeais reflectirem a sua visão da Igreja para o mundo de hoje, é natural que o seu sucessor saia do núcleo dos progressistas e não dos conservadores, que muitos admitem ser igualmente uma possibilidade para que os sinos toquem de novo a rebate pela concentração e união face à dispersão alimentada pelo "todos, todos, todos" do Papa que veio do Fim do Mundo.

No entanto, por estas alturas, em que as opiniões valem muito pouco para o desfecho da votação no Conclave reunido na Capela Sistina, o mais provável é que o próximo Chefe do Vaticano, se não alinhar totalmente com o "todos, todos, todos" de Francisco, estará alinhado com a ideia de pelo menos "todos, todos".

E a possibilidade de um Papa africano ou asiático (ver links em baixo, onde o "rebanho" é mais jovem e mais pode crescer, face a uma Europa envelhecida, uma América do Norte desviada para o evangelismo corroído pelo reaccionarismo, é cada vez mais sólida, visto que da América Latina era oriundo o Papa que acaba de, na crença da Fé católica, ir para o Céu.