O local da reunião para os 133 cardeais, de 71 nacionalidades, é a Capela Sistina, onde sobre as suas cabeças estará, acreditam, o Espírito Santo, e a pintura mundialmente famosa de Michelangelo, inspirada em passagens do Antigo e do Novo Testamento, além do Livro do Génesis.
A tarefa que o grupo cardinalício tem pela frente não é pequena, é a escolha do novo chefe da Igreja Católica que vai liderar um rebanho de mais de 1,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo e uma das figuras mais respeitadas no Planeta, embora esse prestígio esteja, como o Vaticano assume, em declínio.
E é por isso que os novos ventos levados para a Praça de São Pedro por Francisco, o Papa que veio do Fim do Mundo, segundo vários analistas, não podem ser travados agora que a Igreja voltou a arejar o seu interior, apesar da resistência das alas mais conservadoras.
Alas conservadoras essas que nunca deixaram de se opor à procura de Francisco em abrir as janelas da Igreja Católica e tirar o mofo das suas paredes, como ele frisou em Lisboa, numa das suas muitas visitas pastorais, para que "todos, todos, todos" possam entrar, procurando um lugar para o universo LGBT+, divorciados, reforçando nela o papel da mulher...
O interesse da escolha de um novo Papa é sempre mostrado pela cobertura mediática desses momentos, e desta feita não é menos, pelo contrário, está a superar outras ocasiões similares, com mais de 2600 jornalistas creditados no Vaticano para acompanhar a sucessão de Fracisco e esperarem pelo momento em que saíra fumo branco da chaminé da Capela Sistina.
A escolha do novo Papa é ainda de importância substantiva pelo momento historicamente instável que o mundo atravessa e para o qual sempre se espera uma palavra do Sumo Pontífice como voz de moderação e de estabilidade.
Com a primeira votação esperada para esta quarta-feira, 07, ao final do dia, ninguém espera que saia já fumo branco do tecto do Vaticano, mas essa possibilidade não está totalmente posta de lado porque a larga maioria dos 133 cardeais já são escolha de Francisco, o que permite uma certa coerência do "eleitorado" no sentido mais liberal dentro do que o Vaticano permite.
E se as escolhas de Francisco reflectirem a sua visão da Igreja para o mundo de hoje, é natural que o seu sucessor saia do núcleo dos progressistas e não dos conservadores, que muitos admitem ser igualmente uma possibilidade para que os sinos toquem de novo a rebate pela concentração e união face à dispersão alimentada pelo "todos, todos, todos" do Papa que veio do Fim do Mundo.
No entanto, por estas alturas, em que as opiniões valem muito pouco para o desfecho da votação no Conclave reunido na Capela Sistina, o mais provável é que o próximo Chefe do Vaticano, se não alinhar totalmente com o "todos, todos, todos" de Francisco, estará alinhado com a ideia de pelo menos "todos, todos".
E a possibilidade de um Papa africano ou asiático, onde o "rebanho" é mais jovem e mais pode crescer, face a uma Europa envelhecida, uma América do Norte desviada para o evangelismo corroído pelo reaccionarismo, é cada vez mais sólida, visto que da América Latina era oriundo o Papa que acaba de, na crença da Fé católica, ir para o Céu.