As sanções norte-americanas e europeias contra os russos não são uma novidade, ultrapassam já as duas dezenas de pacotes, mas são algo de novo ao abrangerem também as empresas da China e da Índia que fornecem a indústria russa.

Com o anúncio deste alargamento do "castigo" ocidental a chineses e indianos, a reacção inicial de Pequim foi de criticar a iniciativa do Governo de Joe Biden, considerando este tipo de sanções ilegais e injustificadas... mas a segunda vaga estava já a ser preparada.

Claramente a querer evidenciar que a China não teme nem se deixa amedrontar pelos EUA, Pequim e Moscovo voltaram a subir ao palco mediático internacional para renovar votos de amizade e cooperação sem paralelo na história dos dois gigantes asiáticos.

E agora, no âmbito da visita, esta semana, do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Sun Weidong, a Moscovo, numa nota divulgada esta quarta-feira, o ministro Wang Yi anuncia que os dois países desempenham um papel único enquanto "âncoras de estabilidade" no mundo actual em aceleradas e relevantes mudanças.

Nesta nota é sublinhado a grosso o papel que Rússia e a China pretendem desempenhar na estabilidade e desenvolvimento da vasta região da Ásia-Pacífico, apelando a que esta parceria cresça em coordenação e objectivos ainda mais ambiciosos.

Recorde-se que é nesta vasta região, com epicentro em Taiwan, a ilha rebelde que a China quer reintegrar em pleno, mas que resiste a isso com o apoio dos EUA, que Pequim e Washington mais próximos estão de um confronto militar, como, de resto, um e outro lado admitem como possível.

"As relações entre a China e a Rússia, sob orientação dos Presidentes Xi e Putin, estão ao seu mais elevado nível de sempre na sua história comum", aponta a nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pequim.

Actualmente é o comércio que emerge como veia principal das relações bilaterais, com o petróleo e o gás russos a fluir para a China em gigantescas quantidades, substituindo o que antes da guerra fluía para ocidente.

Enquanto, no sentido inverso, a China inunda a Rússia com os seus carros e bens de consumo geral que as sanções proibiram de chegar ao país.

Na verdade, estas juras de amor entre chineses e russos, que servem os interesses de ambos quando o "inimigo" comum, os EUA, estão em modo de desafio em ambas as frentes, na Ucrânia e em Taiwan, não são novidade.

Servem apenas o propósito de responder às sanções americanas com músculo e determinação, sob a subtil técnica diplomática de mostrar a quem se dirige a força sem indicar a quem se dirige, deixando isso claro nas entrelinhas.

Até porque nem Pequim nem Moscovo escondem a ideia comum de juntar esforços para levar ao colapso da ordem mundial baseada nas regras ocidentais do pós II Guerra Mundial, que dizem beneficiar apenas os EUA e os seus aliados ocidentais.

Em substituição, Xi Jinping e Vladimir Putin querem uma nova ordem mundial sustentada na cooperação entre iguais, que conta com o apoio da Índia de Narendra Modi, que permita ao sul global recuperar do atraso em desenvolvimento e progresso que o ocidente alargado somou nestes quase 80 anos.

No que toca à guerra na Ucrânia, como pode ser lido aqui, a China não desiste de aparecer como mediador de primeira linha, como o prova o envio do seu "buldózer diplomático" para a Europa, incluindo Ucrânia e Rússia, de forma a desbravar os caminhos da paz.