Para isso, Podoliak, que se tem destacado como a voz mais belicista do regime de Kiev, sendo igualmente a mais importante figura do gabinete de Zelensky quando este se quer fazer ouvir sem vir a público, que é como quem diz, para livrar todas as províncias ocupadas pela Rússia, incluindo a Península da Crimeia, é essencial "matar o maior número de russos que for possível".

Este dirigente de topo na estrutura decisora em Kiev entende, como o próprio o disse aos media ucranianos, logo depois das palavras menos aguerridas de Putin e Blinken, que não há outro caminho que não seja atirar, através de um ataque brutal às linhas de defesa russas que permita abrir caminho até às fronteiras definidas em 1991 com o colapso da União Soviética, recuperando-as na totalidade.

Segundo o site Russia Today - o Novo Jornal não tem como aceder à emissão da TV ucraniana de onde foi retirada esta informação -, Podoliak afirmou numa telemaratona nesta quinta-feira, horas depois das palavras mais sensatas de Blinken Stoltenberg e Putin, que "só há um plano para os ucranianos", que é "aplicar o mais brutal dos ataques e matar o maior número possível de russos no caminho" porque as forças de Kiev "não podem parar antes desta tarefa concluída e dizer que agora vamos falar e pensar noutra coisa qualquer".

Esta não é a primeira vez que a frase sobre matar russos no maior número possível surge dentro deste conflito, porque o próprio ministro da Defesa ucraniano, Aleksey Reznikov, já veio a público dizer que foram os aliados ocidentais que lhes disseram, logo nos primeiros dias de guerra, que era fundamental matar o maior número possível de russos.

E o senador norte-americano Lindsey Graham, num encontro com Zelensky em Maio deste ano, se mostrou extremamente satisfeito com a mortandade entre as fileiras russas e que esse facto era a prova de que o dinheiro e as armas norte-americanas estavam a ser bem empregues, era mesmo "o melhor dinheiro jamais gasto em Washington".

Estas palavras de Podoliak caíram como uma granada ofensiva numa altura em que, apesar da contra-ofensiva ucraniana estar a evoluir, a palavra negociações foi mais vezes pronunciada por dirigentes relevantes no mais curto espaço de tempo, indiciando uma vontade de mudar a agulha para levar o mundo a livrar-se deste "espinho" cravado na economia global, especialmente entre os mais pobres, ao mesmo tempo que nunca morreu tanta gente numa guerra europeia desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945.

Alguns analistas admitem que o regime de Kiev alberga duas correntes políticas sobre o caminho a dar ao conflito, uma mais razoável e defensora de uma nova abordagem, como parecia ser o caso do CEMGFA Valerii Zaluzhnyi, cujo desaparecimento esteve envolto em polémica nas últimas semanas, sendo Podoliak claramente o rosto dos mais radicais.

Face a este revês numa possibilidade, mesmo que escassa, de trilhar caminhos diferentes, o evoluir da contra-ofensiva, que até o falcão Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO, veio dizer que seria uma forma de Kiev ganhar posição e vantagem na mesa negocial, será claramente decisivo para desenhar o fim desta sangrenta história.

Segundo as fontes disponíveis, ouvindo e lendo as de um e do outro lado, pode-se concluir que a contra-ofensiva ucraniana tem conseguido retomar algumas aldeias na região de Zaporizhia, importante no momento mas pouco relevante no conjunto da operação em curso, mas o mais relevante tem sido a destruição confirmada e admitida pelos aliados ocidentais da Ucrânia de largas dezenas de carros de combate e veículos de transporte ocidentais, incluindo os icónicos Leopard 2 alemães e os norte-americanos Bradley, além de milhares de mortos e feridos nestes dez dias de combates nesta fase.

Do lado russo, onde o número de mortos e feridos é estimado elevado pelos ucranianos, a informação tem sido menos avançada porque as forças de Kiev estabeleceram como estratégia para este momento falar menos sobre as suas conquistas e sucessos, mas sabe-se que, como em todas as guerras, são as forças de estão a atacar posições fortificadas que absorvem o maior número de baixas humanas e perdas em material, num rácio que pode ir de 1/3 para 1/10, em casos de evidente má organização e comando deficiente da operação.

Entretanto, soube-se já esta quinta-feira, 15, que a Rússia vai realizar eleições locais na regiões anexadas no ano passado, em Setembro, depois de referendos que a ONU não reconhece, não havendo, ao que parece, uma relação directa entre esta decisão e as palavras de Podoliak.

As eleições vão ter lugar em 10 de Setembro, um ano após a sua anexação, e abrangerão as regiões do Donbass, Donetsk e Lugansk, e ainda Zaporizhia e Kherson.