Declarada a 01 de Agosto do ano passado, a epidemia de Ébola que ganha força dia após dias nas províncias do leste da RDC, já matou mais de 1.800 pessoas e a OMS já declarou a emergência global para combater o vírus, embora tenha defendido que os países vizinhos, como o Ruanda e o Uganda, mas também Angola ou a Zâmbia, não devem impor restrições severas porque isso conduz as pessoas a atravessarem as fronteiras em locais onde não existe qualquer tipo de despiste da doença.

Apesar de não se tratar de uma proibição total de circulação, quem quiser enrar no Ruanda, a partir do Congo, para participar, por exemplo, em seminários ou fóruns internacionais, deve pedir uma autorização especial às autoridades nacionais.

A própria OMS afirma que o risco de contágio para fora das fronteiras da RDC é muito elevado, tendo já sido detectados casos no Uganda e em áreas muito próximas do Sudão do Sul, ou ainda a escassos quilómetros da fronteira com o Ruanda, na cidade de Goma, onde habitam mais cerca de 2,5 milhões de pessoas, sendo, devido à precariedade em que a maioria vive, um campo perigoso para o alastramento da epidemia.

Hà pelo menos seis meses que todos os países com fronteira comum com a RDC estão de sobreaviso por indicação da OMS para aumentarem a vigilância das suas fronteiras como medida profiláctica para o alastramento da epidemia que, por enquanto, ainda está limitada às províncias congolesas do Kivu Norte e Ituri, para além dos dois casos esporádicos detectados no Uganda.

A segunda epidemia mais grave de sempre

Nunca como agora foi tão difícil aos organismos internacionais como a Organização Mundial de Saúde, entre outros que estão no terreno, combater este vírus que até agora estava confinado às províncias de Ituri e Kivu Norte.

E isso, porque dezenas de milícias e guerrilhas organizadas, algumas delas com origem nos países vizinhos, como a Aliança das Forças Democráticas (ADF), ugandesa, não têm dado descanso nem às populações locais nem às equipas sanitárias que, no terreno, procuram criar um sistema eficaz de controlo e combate à doença, como é disso prova as várias mortes já registadas entre as equipas médicas locais e internacionais.

Esta é a 10ª registada desde que o vírus do Ébola foi confirmado em humanos, decorria o ano de 1976, também na RDC, sendo a 2ª mais letal registada até hoje, a seguir à de 2013, na África Ocidental, que fez mais de 11 mil mortos.

O alerta foi lançado pelo ministério da Saúde congolês a 01 de Agosto de 2018 e tem tido uma progressão exponencial, porque só no último mês o número de caso registado e conformado laboratorialmente é superior aos identificados nos primeiros seis meses, muito porque as dificuldades de combate ao vírus crescem à medida que as populações locais mostram não querer a presença dos médicos internacionais a quem acusam de ter levado a doença para a região, convencidos disso mesmo por feiticeiros locais e lideres de grupos armados que no Kivu Norte exploram os recursos naturais.

Um dos problemas mais graves, segundo a OMS, é que as pessoas que têm sintomas da doença estão a ir em grande número para as suas aldeias em busca de tratamento tradicional porque não têm conhecimento de que os hospitais de campanha estejam a conseguir salvar quem ali entra doente, contribuindo assim para a forte progressão da maleita que é altamente contagiosa através do contacto com fluídos corporais das vítimas.

A tradição ancestral de contacto, por respeito, com o cadáver dos falecidos é um dos motivos mais enfatizados para o avanço da epidemia.

A RDC tem fronteira com nove países, um deles é Angola, com quem partlha a mais extensa fronteira, mais de 2.000 km"s, mas a nore e leste estão, para além do Uganda e Ruanda, países em constante sobressalto e conflitos, como a República Centro-Africana e o Sudão do Sul, onde seria, devido à ausência quase total de resposta sanitária, muito mais difícil estancar uma epidemia se ali chegasse o vírus oriundo da RDC.