Este estreitar do caminho da paz e a abertura de uma avenina cada vez mais larga para a guerra vem da decisão assumida há dois anos por Donald Trump de abandonar unilateralmente o acordo nuclear assinado em 2015 pelo seu antecessor Barack Obama, em conjunto com a União Europeia, a Rússia e a China e o Irão, onde este país, a troco do levantamento das sanções, dava garantias de acabar com o programa de produção de armas nucleares.

Apesar de Teerão estar a cumprir integralmente o acordo, como todos os organismos de controlo de armamento internacionais garantem, a Administração norte-americana abandou-o unilateralmente porque Trump não acredita que o regime não esteja a conseguir manipular as inspecções e a prosseguir as suas intenções armamentistas com capacidade de destruição em massa.

O primeiro passo de Trump foi reactivar as sanções sobre as exportações petrolíferas iranianas, causando sérios danos à economia do país, que é um dos maiores produtores de crude do mundo, contra a vontade dos restantes parceiros no acordo, mas com sucesso devido à ameaça de punição sobre os países e as empresas que mantenham negócios com Teerão com retirada de acesso, por exemplo, à economia e ao mercado norte-americano.

Perante este quadro, o Irão reagiu garantindo não ter medo dos EUA e Trump enviou, de seguida, um porta-aviões para o Golfo Pérsico, equipado com caças-bombardeiros, e outras unidades militares da marina dos EUA.

Agora, depois de alguns episódios de ataques a oleodutos sauditas reivindicados por guerrilheiros iemenitas, que são apoiados pelo Irão - segundo garante Riade e Washington - e ainda a petroleiros sauditas, Donald Trump, num tweet, que é o seu "campo de batalha" de eleição, escreveu que "se quiser combater connosco, isso será o fim oficial do Irão".

"Nunca mais ameacem os Estados Unidos da América", avisou ainda Donald Trump, naquela que é a mais ameaçadora mensagem da Casa Branca depois de John Bolton, o belicista conselheiro de Defesa de Trump, ter vindo a público, no início deste mês, garantir ter informações muito preocupantes de actividade iraniana contra os interesses dos EUA e dos seus aliados - Arábia Saudita e Israel - no Médio Oriente.

Trump tem dito, todavia, noutras ocasiões, num tom menos ameaçador, que apenas não quer ver o Irão com armas nucleares, enquanto o Irão, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, já disse que Teerão não quer uma guerra com os EUA e também que sabe que Washington "não quer uma guerra com o Irão".

O governante iraniano considera mesmo que as ameaças de TRump são mera "guerra psicológica"

"Não vai haver guerra nenhuma. Nós não queremos guerra e sabemos que ninguém tem qualquer ilusão sobre o que representa fazer uma guerra com o Irão nesta região", disse Zarif, que esteve recentemente na China.

Mas, também com origem em Teerão, o líder dos Guardas da Revolução, Hossein Salami, foi menos cauteloso e disse que, para além de o Irão não temer uma guerra e os Estados Unidos sim, temerem uma guerra porque têm consciência de que o Médio Oriente seria transformado numa fogueira.

"Não a procuramos nem a tememos", disse Salami sobre a guerra.

Mas a verdade é que os sinais vão-se avolumando em sentido contrário, como é o caso da recente ordem emitida pela Casa Branca para que o pessoal diplomático do Iraque deixasse este país, mandaram volumosos meios militares para a região e colocaram os guardas da revolução iranianos na lista das organizações que apoiam o terrorismo.