Com 2,3 milhões de habitantes em 365 kms2, com a maior densidade populacional do mundo, Gaza pode ficar sem condições de sobrevivência para os seus habitantes em escassas semanas se Israel mantiver esta decisão e se as forças do Hamas, as Brigadas Al-Qasam, que levaram a cabo a mais ousada operação militar em territórios israelitas em décadas, não conseguir abrir brechas na muralha com que Tel Aviv ameaça encurralar os palestinianos que vivem nesta língua de terra entre o sul de Israel, o Egipto e o Mar Mediterrâneo.

Porém, esta medida só poderá surtir efeitos se o Egipto, que mantém a fronteira com Gaza fechada há décadas, permitindo apenas a passagem de pessoas sob justificação, mantiver a decisão definida em 1979, no acordo de paz entre Cairo e Tel Aviv, de que todos os bens, incluindo alimentos e combustíveis que entram em Gaza, devem passar por Israel.

E, para já, tal como sucedeu em circunstâncias semelhantes no passado, em que Israel nunca levou o cerco a Gaza até consequências dramáticas, o Egipto não mostra vontade de rasgar o acordo com Israel que definiu esta forma de lidar com a linha de fronteira de 11 quilómetros com a Palestina.

Todavia, antes desta medida começar a ser implementada, os sinais no terreno apontam para uma invasão terrestre das Forças de Segurança de Israel (IDF, em inglês), como se depreende dos milhares de soldados israelitas que estão a chegar ao sul de Israel em longos comboios militares, bem como centenas de carros de combate pesados e peças de artilharia que começam a concentrar-se nas imediações de Gaza.

Isto, quando os grupos móveis de combate das Brigadas Al-Qasam (ver links em baixo nesta página) ainda persistem, embora em número reduzido, a alimentar focos de combates com o Tsahal, que é o Exército israelita, em vários colonatos no sul de Israel, e quando começam a ser audíveis os confrontos entre as forças judias e os combatentes do Hezbollah, apoiadas pelo Irão, no sul do Líbano, cuja fronteira com Israel é das mais incandescentes do mundo.

Ao mesmo tempo, como estão a noticiar agências de notícias e as televisões internacionais, como a Al Jazeera, nos restantes territórios da Palestina, como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, estão a surgir focos de violência e manifestações de apoio à operação "Dilúvio Al Aqsa" conduzida pelo Hamas que deixou Israel à beira de um ataque de nervos pela forma surpreendente como a sua intelligentsia foi apanhada desprevenida, o que levantou mesmo dúvidas sobre se não teria havido um propositado fechar de olhos para permitir e justificar a abertura do "estado de guerra" em que Netanyhau colocou o país logo na manhã de Sábado, 07.

A esperança surge agora da intensificação dos anúncios de vontade para mediar o conflito, apesar de Israel já ter desmentido a notícia de que o Qatar estaria a mediar a negociação para libertar reféns israelitas na posse do Hamas, o que inclui a Rússia, dos poucos países com capacidade de falar com o Hamas e Tel Aviv, ou a Liga Árabe, cuja equipa para emergências já está na Palestina, enquanto os ministros dos Negócios Estrangeiros desta histórica organização vão reunir de urgência esta quarta-feira, no Cairo, Egipto, procurando encontrar saídas para o que se prevê, se assim não for, possa vir a ser das mais dramáticas guerras do Médio Oriente em décadas.

Isto, porque entre tantas razões históricas onde o ódio foi sendo acumulado, de um e do outro lado, na sociedade israelita está a crescer uma sede de vingança inaudita, especialmente depois de serem conhecidos os mais de 800 civis mortos pelas Brigadas do Hamas, com destaque para o bárbaro assassinato a sangue frio de 260 jovens que estavam num festival de música moderna no deserto do sul de Israel, de onde foram igualmente aprisionados como reféns várias dezenas que estão actualmente a servir de escudos humanos para travar o avanço do Tsahal e dos ataques da aviação em Gaza.

Onde, para já, mais de 150 mil pessoas procuraram refugio nas instalações da ONU, de saúde e escolares, depois de, nas 48 horas após a operação do Hamas, a aviação israelita desferiu sucessivos golpes em zonas residenciais, até porque, devido à elevada densidade populacional, toda a Faixa de Gaza é área densamente habitada, incluindo as imediações das infra-estruturas políticas e militares do Hamas.

O número de mortos não tem parado de subir, com mais de 800 mortos do lado israelita e mais de 550 do lado palestiniano, além de mais de 5 mil feridos de um lado e do outros, sendo de destacar que este é o primeiro conflito entre estes dois velhos "inimigos" em que o número de mortos entre judeus é superior ao ocorrido no seio dos palestinianos.