A Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) esteve reunida em mini-Cimeira, no dia 29 de Janeiro, em Luanda, convocada pelo Presidente angolano e líder da organização com a questão da RCA no centro das atenções e João Lourenço volta a reunir um grupo de Chefes de Estado desta organização sub-regional na capital angolana, no início de Março, para mais um passo na definição de uma estratégia para acabar com o conflito e restaurar a normalidade democrática naquele país.

A estabilização da RCA é uma aposta clara de Angola, como tem sido evidente nas várias deslocações do seu Presidente, Faustin-Archange Touadéra, a Luanda, estando igualmente dependente disso o fortalecimento da cooperação bilateral. E João Lourenço não se tem poupado a esforços, com outros membros da CIRGL, para estancar a violência em Bangui.

Agora, com esta caravana da MINUSCA, a missão da ONU para a RCA, Bangui viu, finalmente, algum alívio na penúria alimentar gerada pelo cerco de quase dois meses dos rebeldes que são apoiados por forças aliadas do antigo Presidente François Bozizé, que visa a conquista pela força do poder em Bangui, depois de ter sido impedido de se candidatar às eleições de 27 de Dezembro de 2020 pelo Tribunal Constitucional.

Os rebeldes ocupam de facto dois terços do país e a missão da ONU, mas também da CIRGL, vai enfrentar forte resistência para garantir que o poder do Presidente Faustin Touadéra possa, finalmente, abranger todo o território, o que não será, como a maior parte dos analistas afirmam, fácil conseguir sem um reforço importante de unidades militares com capacidade armada para impor a estabilidade.

Ainda para mais quando é cada vez mais evidente que alguns países ocidentais mostram um especial interesse em garantir influência em Bangui, havendo mesmo relatos de que a França e a Rússia podem estar a desembrulhar na RCA uma nova "guerra fria" com frentes de batalha em África, apoiando as forças no terreno conforme os seus interesses de médio e longo prazo.

Para já, os efeitos mais devastadores deste conflito, a fome que ameaçava a vida de milhares de habitantes de Bangui e arredores, começou a ser atenuada com a chegada de 14 camiões com alimentos e medicamentos.

Isto só foi possível porque a MINUSCA dispõe de unidades fortemente armadas no país, substituindo em grande medida as forças armadas nacionais que estão fragilizadas por um embargo de armaas da ONU à RCA, o que é também contestado pela CIRGL, como o Presidente João Lourenço deixou claro em Luanda, na mini-Cimeira da organização.

Uma das prioridades do Governo de Bangui é actualmente libertar as estradas para que os quase 1500 camiões retidos nos Camarões possam entra na RCA com os mais que necessários bens para a população.

Alias, a questão da presença de unidades militares de países membros da CIRGL é uma das prováveis questões em cima da mesa nestas mini-Cimeiras de Luanda, porque as forças leais ao Presidente Faustin-Archange Touadéra não dispõem de capacidade de resposta às permanentes ameaças dos grupos rebeldes.

E, como João Lourenço afirmou em Luanda, ao contrário do Governo legítimo da RCA, os rebeldes e as guerrilhas podem adquirir todo o tipo de armamento, sem restrições, no imenso mercado ilegal global de armas.