Este ataque, que, segundo a agência TASS danificou três IL-76, aviões de carga e um depósito de combustível, sem perdas de vidas humanas, está a merecer especial atenção por causa da trajectória dos drones ucranianos.

Olhando para o mapa, se o enxame de drones foi lançado de território ucraniano, sem passar pela Bielorrússia, o que seria potencialmente visto como uma agressão de Kiev a Minsk, estes teriam de descrever um largo, longo, centenas de quilómetros a mais, e improvável, arco sobre território russo antes de alcançar a cidade de Pskov (na foto), onde está a base aérea alvejada, a pouco mais de 40 kms da Estónia.

É ainda possível que este ataque tenha sido lançado a partir do Mar Báltico, a norte, a cerca de 200 kms, o que teria de ser feito a partir de uma embarcação ucraniana civil, porque já não possui navios de guerra, ou de um navio de um país da NATO.

Mas a possibilidade mais perigosa é que o ataque tenha sido desencadeado por comandos ucranianos a partir de território da NATO; da Estónia ou da Lituânia, com ou sem conhecimento destes países, o que poderia ser visto em Moscovo como uma situação de resposta obrigatória e potencialmente causadora de uma crise entre a Federação Russa e a NATO.

É preciso ter em conta que, por várias vezes, tanto Washington como Moscovo, e sublinhado por Joe Biden e Vladimir Putin, qualquer confronto entre russos e países da NATO levará inevitavelmente a uma guerra em larga escala e a um devastador uso de armas nucleares.

Segundo a Russia Today, que cita a agência TASS, este ataque levou ao encerramento do espaço aéreo na região de Pskov e tanto os media russos como as redes sociais estão a divulgar intensamente os vídeos que demonstram a eficácia deste ataque ucraniano, o que não é de todo a norma como estes assuntos são tratados mediaticamente na Rússia, o que deixa em aberto a existência de uma intencionalidade nesta exposição do sucesso do ataque ucraniano.

E o problema que está subjacente a este cenário é que, estando a Pskov a 700 kms da fronteira ucraniana, mas a menos de 40 da fronteira com a Estónia, a probabilidade de os drones terem saído da Ucrânia e passado exclusivamente sobre território russo é altamente improvável porque isso significaria atravessar, descrevendo um largo arco, áreas densamente defendidas com sistemas de defesa antiaérea, como Belgorod, ou então de posições muito mais a sul, o que acrescentaria centenas de quilómetros ao voo até Pskov.

Sobre este ataque bem organizado pelos ucranianos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo já se pronunciou, tendo a porta-voz Maria Zakharova dito aos jornalistas que tal desempenho seria impossível sem o apoio de países ocidentais.

Maria Zakharova sublinhou ainda, segundo a Reuters, via The Guardian, que este ataque não ficará sem resposta adequada.

Este ataque a Pskov, o mais conseguido dos vários que ocorreram esta noite de treça-feira para hoje, quarta-feira, 30, ocorreu em simultâneo com outros, também com recurso a drones, na Crimeia e em Moscovo, embora aqui, segundo a imprensa russa, tenham todos sido abatidos.

Por sua vez, coincidindo ou não, Kiev, a capital ucraniana, foi igualmente alvo de uma vasto ataque, o mais intenso em várias semanas, de drones e misseis russos, com diversas explosões a sacudirem a cidade em diversos locais.

Os ucranianos dizem que foram destroços de misseis abatidos que causaram estas explosões e danos em prédios civis, enquanto os russos garantem que os alvos previamente seleccionados foram atingidos, todos eles militares.

Entretanto, na linha da frente, passado período simbólico do Dia da Independência da Ucrânia, e depois de escassos avanços na frente de Rabotine, região de Zaporizhia, as forças ucranianas parecem estar em pausa operacional, levando a que os analistas militares acreditem que se pode estar face a um período de menos intensidade nos combates devido ao aproximar do tempo frio, chuva e neve.

Existe, porém, a possibilidade de esta aparente pausa ser a antecâmara de novas ofensivas, tanto do lado ucraniano como do lado russo, fazendo uso dos 550 mil soldados que Moscovo tem em reserva devido aos processo de adesão de voluntários, 250 mil, e 300 mil recrutados para o serviço militar obrigatório, aproveitando a já admitida fragilidade das forças de Kiev depois de meses intensos de uma contra-ofensiva que começou a 04 de Junho, há quase três meses, e ficou muito longe dos objectivos iniciais e com a qual perdeu grande parte da sua capacidade de combate.