Acrescem às condições existentes a circunstância de África ter 20% da terra arável no mundo. Uma população de 1,5 mil milhões de pessoas, a maior parte muito jovem, estimando-se que em 2050 a população atinja 2,5 mil milhões de pessoas.
Era e é necessário que o crescimento económico seja superior ao demográfico sob pena de, se assim não for, haver menos riqueza a distribuir por mais.
A questão antes de ser económica é política, exigindo por um lado estratégia, incompatível com navegações à bolina, ou seja, à vista de terra com visão imediatista e por outro uma coordenação consensualmente eficaz na União Africana que integra todos os países africanos.
Sucede que, em 2013, quando a "Agenda 2063" foi aprovada, o mundo havia ultrapassado a crise financeira de 2008 seguida da crise das dívidas soberanas e vivendo-se então os alvores do início de profundas transformações que viriam a dar lugar a uma nova realidade geopolítica multipolar em transição para a de hoje.
Poucos anos volvidos, e como é sabido, o mundo foi confrontado com a primeira pandemia da era da globalização, causada pela Covid-19 que conduziu durante mais de dois anos ao encerramento real das fronteiras, à drástica diminuição da mobilidade e desta da produção, agravando no seio de cada país o desemprego e gerando mais desigualdades.
Pouco tempo decorrido, surge a guerra na Ucrânia com impactos não negligenciáveis à escala global em múltiplos domínios, desde o político ao económico, não esquecendo o social.
Daí que, ultrapassada a pandemia, foram e são visíveis as consequências agravando as condições de vida dos mais desfavorecidos, realidade visível à vista desarmada e que os aceleramentos dos processos migratórios evidenciam.
Não é de estranhar por isso que os cidadãos dos países africanos viessem a ser os mais afectados nas suas condições de vida.
Independentemente dos avanços que nos últimos trinta anos o continente africano experimentou e em particular alguns países, o certo é que as metas estabelecidas para o decénio já decorrido sobre a aprovação da"Agenda 2063" estão muito aquém das fixadas pela União Africana.
É certo que em 2013 não era previsível a ocorrência da pandemia da Covid-19 nem outros factos exogéneos desde a guerra da Ucrânia à efectiva materialização de uma nova realidade multipolar com impactos em todos os azimutes e na geopolítica.
Se, porém, atendermos ao que precede tudo, aconselha que a estrutura orgânica da União Africana, para além da necessidade de revisitação dos objectivos da "Agenda 2063", em função das profundas e inesperadas alterações ocorridas à escala global, reveja no mínimo dos mínimos a duração dos mandatos dos órgãos dirigentes, desde logo da Presidência, concedendo-lhe uma maior duração.
Com a actual estrutura orgânica da União Africana não parece ser viável salvaguardar uma indispensável coordenação por óbvias dificuldades no estabelecimento de uma estratégia de longo prazo que impõe longas negociações e articulações com os países que dela fazem parte.
Está, pois, na ordem do dia por razões endógenas e exogéneas a reforma da União Africana para que possa responder a uma estratégia de longo prazo como se sustenta e é a "Agenda 2063".
(Secretário-geral da UCCLA)