Este ano, deve ser o ano da tomada de consciência colectiva de que perdemos o País. A nossa voz não é ouvida. Os nossos direitos não são respeitados. E ninguém responde por isso. Um passaporte leva 6 ou 13 meses para ser renovado. A compra de uma campa gasta 3 meses da nossa misericordiosa cristandade. A cédula não existe nas administrações dos municípios e comunas que não têm país, onde o governador nunca vai porque não quer estragar os seus sapatos comprados em Paris. A doença não encontra adversário deixando que o povo a conserve até que Deus chame para o eterno descanso que ele nunca sentiu. O arroz e a garrafa de óleo são luxos que já não pode comprar. Não há paz no prato. O bidão de água na cabeça foi imposto como uma maldição a quem não tem nenhuma culpa.

A menos de um ano e meio para as próximas eleições, o País regrediu para níveis de desestruturação, corrupção e impunidade vergonhosos sem que o Presidente João Lourenço fosse capaz de impor os limites e as medidas que a Lei estabelece. Os índices da decência humana colapsaram com uma pobreza monetária de 40,6% da população (em cada 100 habitantes 41 vive com apenas 12.181 KZ por mês.) O Índice Global de Inovação (GII) de 2025 coloca Angola no penúltimo lugar (138º) entre as 139 economias avaliadas em 2025.

Uma política que não inova. Que não agrega valor à vida dos eleitores. Que ignora a educação e a saúde e não protege o futuro, não pode ter condições de se posicionar em nenhum patamar de grandeza. Sem inclusão financeira, investimento na agricultura, sustentável, crédito ao empreendedorismo e ao sector privado sem necessidade de se ser militante do MPLA, bem como o desenvolvimento de infra-estruturas e com uma economia que não gera empregos formais, o País não alterará nenhum dos impactos negativos que vive há décadas. O que disserem para boi dormir é mentira.

O Presidente João Lourenço desvalorizou a transparência e a boa governação. O combate à corrupção é patético e tornou-se míope ao ser implacável apenas para quem não faz parte do inner circle ou que de algum modo se pode converter um adversário político. Os escândalos com a AGT e Tribunal Supremo não "apuraram" responsabilidades e os cidadãos que as cometeram passeiam-se pela cidade sem vergonha na cara. As responsabilidades políticas também não tidas em conta. Os ministros e governadores responsáveis pelas descaradas faltas dos seus sectores continuam nas boas graças do pai grande. O MPLA não tem capacidade, nem moralidade para devolver o País para o patamar da dignidade. A pobreza e a desigualdade conduzem os eleitores para baixo da linha de pobreza. A presidência não construiu nenhuma política sustentável, nem inclusiva. A presidência é inconsequente. Desumana. E nunca protegeu os pobres.

Considero que este ano tem de ser o ano da reflexão nacional. Olhar para o País e sua salvação. Temos de ser capazes de mostrar a nossa indignação pelos 50 anos em que o MLPA priorizou apenas os seus interesses de conservação do poder em prejuízo da vida e do bem-estar das pessoas. Em 2050 Angola terá cerca de 74 milhões de habitantes. Quase metade destes cidadãos terão menos de 18 anos. Esta situação exige uma efectiva capacidade para lidar com desafios difíceis e que estão relacionados com o crescimento da população e com a pressão dos serviços básicos tais como educação, habitação, emprego e saúde. E todos sabemos que nenhum destes itens preocupam o MPLA ou a Presidência.

Teremos de escolher entre viver de joelhos de forma submissa e sem futuro ou decidir reivindicar o poder constitucional que lhe nos é inalienável e exigirmos de forma contundente o cumprimento e o respeito pelos nossos direitos. Teremos de ser corajosos, unidos e firmes neste propósito. Chega de mentiras. De promessas. De manipulação. O lugar de conforto que alguns de nós tem, não será nunca suficiente para aceitar sermos cúmplices por inacção da destruição do futuro dos nossos filhos e da pátria. A paciência dos povos quando é prolongada fortalece os opressores e ofende a dignidade humana. Não podemos continuar a ser carne para o canhão. Não podemos ficar em cima do muro. Nunca mais. Angola é do POVO. Não é do MPLA.