A falta de alternativas claras não gera apenas desconfiança e desilusão. Com o degradar das condições de vida, com a pobreza, a falta de emprego, de saúde, educação, de saneamento básico, com a falta de confiança na democracia e nas instituições é necessário que este discurso seja capaz de motivar os cidadãos a agir, de os mobilizar, de os fazer acreditar que ainda é possível. Os cidadãos esperam que João Lourenço lhes fale com verdade, humildade e franqueza. Que seja directo e objectivo. Que não volte a tornar este discurso num mero exercício de cosmética ou de mostrar um país que só ele e alguns dos seus estão a ver. Qual é o verdadeiro Estado da Nação? É a pergunta que todos fazem e para que todos querem respostas.
Já aqui escrevi e volto a reforçar: ao invés de ouvir o relatório de quantas escolas foram construídas ou quantos hospitais foram inaugurados, os cidadãos querem saber qual é a estratégia para termos qualidade, eficiência e melhorias no sistema de ensino. Que soluções para o défice de 60 mil professores. Que soluções para a situação de crianças que estão fora do sistema de ensino, ou das que estudam ao ar livre e debaixo de árvores ou ainda daquelas que estudam entre fezes. Que não seja um discurso preenchido de "enchidos". Do outro lado estarão cidadãos marcados pela desconfiança, desilusão e desesperança e a aguardar por uma "luz" e que o Presidente João Lourenço diga como pensa tirá-los do aperto, do sufoco e da falta de expectativa. Como vai conseguir dar-lhes algo com que sonhar e em que acreditar. Que João Lourenço de 2025 vá buscar inspiração ao João Lourenço de 2017 e àquele discurso que apontava um caminho, uma estratégia, que tinha rumo e direcção.
Este ano, o NJ voltou a convidar algumas figuras notáveis da nossa sociedade para um exercício de antecipação, para que elas apresentassem o seu Estado da Nação. É um exercício interessante que visa incluir e fazer perceber ao Presidente João Lourenço que existem, no País e fora dele, diferentes leituras, visões e sensibilidades sobre o Estado da Nação. De cidadãos que não vão "pintar" o País de cor que agrade aos seus olhos. Cidadãos que não querem ouvir discursos previsíveis, muitas vezes enfadonhos, com imprecisões de estatística e que também acabam, muitas vezes, por animar conversas das redes sociais, chegando muitas vezes a cair na ridicularização.
A Nação a todos pertence e a todos interessa o seu sucesso e desenvolvimento. Que fale com abertura e franqueza para a nação que o elegeu como líder, que se apresente como a nossa inspiração e que nos consiga mobilizar e fazer acreditar que o futuro vale a pena. Que seja apenas justo e honesto, que fale com verdade ao País e nos diga a todos qual é o verdadeiro Estado da Nação. Nós até já sabemos, mas queremos ouvir da sua boca e perceber que quem lidera não está alheado, que sabe e vive no País real.