O Cuanza, que vem para o Oeste - atravessando o Bié, Malange e as províncias que têm o seu nome, permite-nos Capanda, Laúca e Caculo-Cabaça - acaba percorrendo, na modorra, cansado das velocidades loucas que o trouxeram, numa vertigem, até Cambambe, as terras baixas que o levam ao Bengo e a Luanda, depois de engrossado pelo Lucala em Massangano.

O Cunene que se despenha para sul, atravessa o Huambo, a Huíla, e a província que baptizou, e corta, decidido, o deserto que faz a fronteira Sul com a Namíbia, acabando no Namibe, beijando as águas do Atlântico. No caminho deixa-nos as marcas do Gove, Matala, Calueque e Ruacaná.

O Cubango, o Cuito, o Cuando, que se juntam para entregar as suas águas - depois de fazerem a outra perna da fronteira Sul - às míticas paisagens dos pântanos que têm o seu nome arredondado lá para as bandas do Botswana.

Ainda do planalto central, e direitos ao mar, ofuscados pelos seus irmãos mais velhos e poderosos, correm alegres o Nhia, o Longa, o Keve e o Catumbela, banhando o Cuanza-Sul e Benguela, saltando a escarpa, e oferecendo-nos o espectáculo do seu vigor.

Mais a Norte, o grande Lucala, que se mostra em Kalandula. Os mais modestos MBridge - no Uíge e no Zaire, Loge - das laranjas cantadas na poesia de Viriato, Dande - travado nas Mabubas antes de chegar à Barra, e Bengo - cujas águas, mágicas, foram as primeiras a chegar a Luanda.

E que dizer dos rios da região mais desértica, junto à costa atlântica, como o Coporolo, o Cimo, o Bentiaba, o Bero e o Giraul, dignos resistentes às condições adversas, que escondem as suas águas uma parte do ano, mas dessedentando quem as sabe procurar rasgando a superfície, e que rugem ocasionalmente, como um leão espicaçado, levando tudo à sua frente, fertilizando as margens para alimentar os que deles dependem?

Os rios têm infindáveis estórias para contar. Os seus nomes são música que gostamos de ouvir: o Cuvelai e o Cuanavale - que se juntam ao Cuito, o Luiana - que se une ao Cuando, o Lungue Vungo - que tantos episódios das guerras testemunhou - que atravessa o Moxico e vai alimentar o Zambeze, o Luangue, o Chicapa, o Luachimo, o Chiumbe e o Luembe- que sobem, paralelos, as Lundas, entre o Cassai e o Cuango, todos eles para alimentar a enorme bacia do Zaire, e o Cuculuvali - que se oferece ao Cunene depois de Xangongo.

Na província mais a Norte, Cabinda, reina o Chiloango.

Os rios são a seiva da vida. Feliz é o país que com eles pode contar. Cursos diversos para o caminho comum. Alicerces de um país de todos, e para todos.