As imagens sociais desta Angola que quer comemorar 50 anos com a pompa de um circo romano, traduzem um país de rastos onde todas as políticas sociais falharam de forma olímpica. De acordo com o UNICEF "apenas 32% das crianças até aos 5 anos são registadas a cada ano", as outras 68% sem registo não existem do ponto de vista institucional, são limbo. "38% das crianças angolanas vive num estado de desnutrição alarmante", cerca de "22% das crianças não frequentam o ensino primário e 48% das crianças matriculadas não termina o ensino primário". Apenas "11% das crianças entre os 3 e os 5 anos têm acesso ao ensino pré-escolar". "30% da população angolana vive abaixo da linha da pobreza" e em estado de sobrevivência pelas dificuldades no acesso ao suprimento das suas necessidades básicas como a comida, saúde e medicamentos, bem como os custa da educação. O saldo da pobreza é geométrico, desumano e criminoso.
Com uma infância ameaçada, o futuro não pode ser consequente pois as fundações do desenvolvimento são precárias logo no patamar de partida. É impossível acreditar, por mais voltas que os relatórios do optimismo do CIPRA, responsável pela gestão de todo o conteúdo de comunicação da presidência da república, que vê para além da nossa capacidade de entendimento, realidades que o resto dos mortais não consegue ver.
Num conturbado momento em que se assiste a profundas alterações nas relações políticas internacionais, Angola passeia-se ao mais alto nível, de país em país, com um discurso vazio e sem respaldo real, com o propósito de atrair investidores num novo modelo de neocolonialismo assente na exploração de todos os recursos onde os mais pobres já são as maiores vítimas, fiéis à tradição de venderem o porco para depois comprarem o chouriço.
Angola não pode continuar a ser gerida sem um plano realista que apenas atente às questões verdadeiramente prioritárias, caso contrário é como se estive a ser construído um prédio que começa pelo telhado. É inadmissível que se esteja a vender o País a retalho e a contrair empréstimos sucessivos para resolver questões domésticas primárias e depois se estoire o OGE (que também é gambeta) em questões acessórias, como a aquisição de viaturas de luxo para tribunais superiores quando o hospital não tem medicamentos e o médico não tem luvas entre tantas outras misérias.
Uma governação que não compreende quão imprescindível é a Educação para a criação de Capital Humano não pode ser considerada séria no século XXI. O salto que Angola necessita exige muito mais do que um novo modelo de educação. O desconforto de Angola no Index de Capital Humano é prova disso. O modelo de ensino quando comparado com o dos países em desenvolvimento, apresenta uma Escola que ficou estagnada no modelo construído pela revolução industrial, cuja principal função era transmitir conhecimento. O século XXI exige a construção de habilidades, competência tecnológica, exaltação de talento, aliados ao estímulo do pensamento critico, que entre nós é, desde logo, considerado uma heresia.
A desigualdade social não tem outra causa que não seja a ausência de estratégias adequadas e sustentáveis. A culpa da desigualdade não decorre nem da localização geográfica, nem da cultura, nem do passado como se tem argumentado. Infelizmente Angola não dispõe de nenhum elevador social consequente que seja capaz de combater a desigualdade. Ou o MPLA entende isto e coloca este desafio na sua cartilha ou "os que não fazem falta" vão provar como esta premissa poderá ser devastadora.