O povo decidiu dar-lhe este nome bastante sugestivo de "Escola dos três cocós" por causa do estado em que se encontra. Sem portas nem janelas, tornou-se uma espécie de latrina a céu aberto e onde estudam mais de 1.500 crianças. Na reportagem feita pela jornalista Teresa Fukiady com imagens de Fábio Caldeira é possível ver um espaço onde as crianças usam latas, grades, bancos de plástico no lugar das carteiras, em que são diariamente atiradas para um espaço que atenta contra a sua saúde em que fezes e um cheiro nauseabundo tomam conta de tudo. E estamos a falar de uma escola cuja construção teve início há quase uma década e cujas obras estão paradas. Salas superlotadas, ausência de carteiras, falta de manuais escolares.
Os alunos são obrigados a procurar soluções para resolver os problemas, ter um lugar para se sentar é a prioridade de todos os dias. Segundo dados do Ministério da Educação e que o NJ noticiou, no presente ano lectivo estão matriculados mais de 9,7 milhões de alunos no ensino geral e contabilizadas mais 3.347 novas salas de aulas em relação ao período anterior, perfazendo um total de 130 mil salas disponíveis. O País tem hoje uma média de 75 alunos por sala de aula, segundo os cálculos feitos pelo NJ, uma situação que prejudica a qualidade do ensino e expõe o fracasso das medidas propostas pelo Executivo. No País, segundo dados do Ministério da Educação, são necessários pelo menos 60 mil professores e cerca de duas mil escolas para atender à demanda do actual Sistema Educativo.
Contudo, há coisas que ninguém explica e nem se dá ao trabalho de esclarecer, que passo aqui a citar. O OGE para 2025 orçamentou mais de 26 mil milhões de Kwanzas para o Ministério da Educação para a elaboração e edição de manuais escolares; em Janeiro, o Presidente João Lourenço disponibilizou, através de um ajuste directo, 3,2 mil milhões de Kwanzas (5,4 milhões de dólares norte-americanos) para a aquisição de serviços de transporte, assim como distribuição de manuais escolares e outros materiais. Na verdade, ajustes e mais ajustes são feitos e o material nunca chega ao destino.
Em Angola, a fome é apontada como uma das principais causas do abandono escolar; ela impede as famílias de fornecerem o sustento e os materiais necessários aos filhos, levando-os a deixar a escola para ajudar no sustento das famílias. A merenda escolar tem sido uma iniciativa para manter os meninos nas escolas e combater o abandono escolar. Certo é que estamos a terminar o mês de Setembro e ainda não temos merenda escolar, conforme o NJ avançou na edição passada: a implementação da merenda escolar está "encravada" por falta de dinheiro. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi desenhado para abranger 5,4 milhões de crianças em mais de seis mil escolas do ensino primário. O plano prevê a distribuição de refeições diárias, ao longo de cinco dias por semana, durante 10 meses, com um custo unitário de 376,82 Kwanzas. E qual era o orçamento para o programa? De acordo com fontes ligadas ao processo, o orçamento inicialmente previsto era de 450 mil milhões de Kwanzas por ano e foi considerado elevado, forçando o Executivo de João Lourenço a rever a verba por falta de disponibilidade financeira. A orientação superior é para reduzir e reajustar a cabimentação, de modo a garantir a sustentabilidade e a execução do programa.
Certo é que faltam carteiras, faltam manuais, falta merenda escolar, faltam professores, faltam condições em muitas escolares para o normal funcionamento. É sempre assim todos os anos, camaradas. É que a escola onde o NJ fez a reportagem fica em Cacuaco, aqui em Luanda. Imagino como devem estar escolas nas províncias do Namibe, Moxico, Cubango, nas Lundas Norte e Sul, Uíge, Cabinda e outras? Há um despesismo que ninguém controla, há uma ostentação que indigna com festas de aniversário e de casamento, que são depois partilhadas nas redes sociais, e temos crianças a estudar na imundície, na podridão, numa escola que eles próprios decidiram chamar de "Escola dos três cocós".
"Já chegámos, camarada. Aqui estamos de novo./ Com vontade de estudar para o bem do nosso povo...", era assim que dizia a lição naquele tempo.