O Presidente da República, João Lourenço, lançou muitos desafios aos nossos diplomatas, por ocasião do último Conselho Consultivo Alargado do MIREX, falou-lhes da importância e da necessidade de se promover a diplomacia económica, o bom nome e imagem de Angola, também da atracção de investimento estrangeiro privado para Angola.

Cada tempo tem o seu tempo, e o tempo hoje é para uma nova abordagem, postura e atitude da nossa diplomacia aquém e além-fronteiras. Precisamos, sobretudo, de um debate objectivo, franco e aberto sobre as reais necessidades, prioridades e estratégias da nossa diplomacia. Temos de sair da retórica da conveniência e do conformismo, das agendas, esquemas e guerrinhas de grupos.

O tribalismo, nepotismo, militância partidária e alguns "privilégios de nascimento, casamento ou de relacionamento" são ainda alguns "cancros" que minam a instituição (MIREX) e não agregam valores à sua estrutura. A diplomacia económica ainda não foi absorvida, entendida e implementada por grandes partes dos nossos diplomatas no exterior. A informação, não tendo sido bem atendida e acolhida, também não pode ser passada a quem realmente interessa. É um processo que certamente irá obrigar a reformas muito mais profundas, a estratégias muito mais ousadas e consistentes e também mais apoio institucional e que não fiquem apenas pelos discursos floreados. Também obrigará a um processo de renovação da própria instituição, em que, de Ministério das Relações, deverá passar a Ministério dos Negócios Estrangeiros, no qual embaixadores e demais diplomatas deverão ter capacidade e habilidade negocial. Mas não se faz diplomacia económica encerrando delegações comerciais nas missões diplomáticas ou reduzindo o seu poder e influência aí onde elas ainda existem.

Uma das principais funções de um Estado é a defesa e a protecção dos seus cidadãos. A diplomacia de proximidade é importante, e os nossos tempos obrigam também muitos diplomatas a descer do pedestal e a ir ao encontro dos anseios e expectativas das comunidades. Não devem existir cidadãos de primeira e cidadãos de segunda, não devem os cidadãos ser discriminados em função da raça, etnia, religião, filiação partidária ou até pelo pleno exercício da liberdade de expressão ou dever de cidadania.

Os desafios são grandes e as expectativas também, e não se pode falhar em coisas básicas e elementares. Mas, para tratar e lidar bem com os de fora, é importante que a nossa diplomacia faça o trabalho de casa e comece ela a dar o verdadeiro exemplo. Infelizmente, não foi o que vimos com o embaixador de carreira e então director dos Recursos Humanos do MIREX, Luís Filipe Galiano. Um quadro com mais de quatro décadas dedicadas à nossa diplomacia, um diplomata por excelência, um homem cuja inteligência, independência, integridade, zelo, brio, empenho e dedicação foram a sua imagem de marca, mas cuja honra e dignidade foram colocadas em causa (injustamente) por alguns colegas e que foi defendido e apoiado por quem de direito.

Foi literalmente abandonado e feito um bode expiatório para um episódio de triste memória, mas que alguns lavaram as mãos como Pilatos. O apoio institucional também lhe faltou muitas vezes durante o período de convalescença, para além das injustiças e travessias no deserto por que passou e a que sempre respondeu com elevação, educação e grande profissionalismo.

O embaixador Luís Filipe Galiano "Juca" foi um diplomata zeloso, patriota e dedicado. Deu grande parte da sua vida, sacrifício e privou a sua família de momentos de afecto e de cumplicidade em nome de Angola, bem como da sua diplomacia. Se, em vida, pouco recebeu, se pouco reconhecimento teve do seu MIREX, na morte menos teve ainda. Soube, acima de tudo, ser um digno profissional que sofreu calado e esteve sempre disposto a ir abrir ou fechar representações diplomáticas. Soube que já estava indicado para ir abrir a nossa missão diplomática na Austrália, mas a morte aos 68 anos não permitiu.

A reciprocidade que nunca teve em vida também lhe foi negada na morte. Angola sabe ser má mãe e boa madrasta para alguns dos seus filhos. Como vamos ser bons diplomatas com os de fora, se não estamos a conseguir tratar com respeito e dignidade os nossos diplomatas? Há ainda muita falta de diplomacia na hora da despedida! Não devia ser assim e ainda se pode mudar o cenário.