Quando se esperava que os Estados Unidos entrassem para o team israelita com a sua poderosa máquina de guerra naval e aérea deslocada para o Médio Oriente, o Presidente Donald Trump resolveu arrefecer os ânimos.
E fê-lo com o anúncio de um prazo de duas semanas para Telavive e Teerão trazerem para o terreno a diplomacia, o que, se não for mais uma armadilha de Washington, pode dar uma oportunidade à paz antes que a região que produz mais de 35% do crude mundial arda como uma cabeça de fósforo.
Foi neste contexto, que viu na sexta-feira, 13, o fogo chegar ao rastilho, com o ataque injustificado, mas há muito anunciado, de Israel ao Irão, que o petróleo começou a escalada paralela à escalada na guerra, chegando a estar cêntimos abaixo dos 78 USD.
Com o anúncio das duas semanas de "intervalo" oferecidas à diplomacia por Trump, os mercados aproveitaram para respirar um bocadinho, e o barril começou a desinchar, tendo o Brent, a referência principal para as ramas angolanas, caído em menos de 24 horas mais de 3%.
Com efeito, o barril de Brent estava, perto das 13:00, hora de Luanda, desta sexta-feira, 20, a valer 76,34 USD, -3.22% face ao fecho da anterior sessão, reflectindo a decisão de Trump em esperar duas semanas até que decida se dá ou não luz verde a uma ataque norte-americano ao Irão.
E a queda só não é mais volumosa, considerando que também a Rússia e a China saíram da sombra para não apenas garantir que o Irão não está sozinho, mas ainda para também apostar na diplomacia como solução antes que aconteça uma tragédia de consequências inimagináveis, porque existe uma desconfiança sobre a real razão por detrás da decisão de Trump.
É que, depois de os EUA terem anunciado que as negociações com o Irão, sobre o seu programa nuclear, estavam a correr bem e estava agendada nova ronda para Domingo, 15, Israel, o mais próximo aliado de Washington em todo o mundo, lançou um ataque devastador sobre Teerão.
E agora, concomitantemente, é suspeito este surgimento das duas semanas, até porque se sabe que os EUA estão a fazer deslocar mais duas esquadras navais de porta-aviões para a região e mais meios aéreos pesados, o que coincide, para conclusão deste processo, com o período de tempo avançado pelo Presidente norte-americano.
Ou seja, uma boa parte do mundo desconfia que assim que os EUA tiverem a sua máquina de guerra deslocada para o Médio Oriente e região adjacente, o ataque ao Irão será lançado como está programado e planeado há muito, não podendo ser isso feito antes porque levaria a soarem as campainhas de alarme em Teerão e mataria o efeito surpresa usado por Telavive.
Entretanto, como todos os analistas sublinham (ver links em baixo), o pior poderá suceder se o Irão optar por bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 22% do crude consumido em todo o mundo, mais de 20 milhões de barris por dia.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional tende a manter os preços claramente acima do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito israelo-iraniano.
Essa a razão pela qual Angola, a viver um período de alívio depois de longas semanas de sufoco, é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.