E neste momento o mercado petrolífero e o preço do petróleo estão a ser afectados pelo que eu chamo dos "gémeos da desgraça", o coronavírus e a guerra de recuperação de quota de mercado entre a Arábia Saudita e a Rússia.

Em primeiro lugar, importa referir que o coronavírus está a exercer uma pressão muito grande na procura agregada por petróleo global que se situa nos 100 milhões de barris por dia (Bpd). De acordo com a Agência de Energia Internacional, a procura caiu cerca de 2 milhões de barris apenas este trimestre e considerando que alguns dos principais países consumidores estão ainda longe do pico da epidemia, por isso é provável que a queda na procura seja permanente e continue até final do ano.

Do lado da oferta mundial por petróleo, estamos a assistir a uma guerra por quota de mercado entre a Arábia Saudita e os seus aliados do Conselho de Cooperação do Golfo e, por outro lado, a Rússia. Tanto a Arábia Saudita como a Rússia fizeram parte de um acordo histórico sobre cortes de produção em 2016 que permitiu uma recuperação do preço do petróleo. Esse acordo seguiu-se ao período entre 2014-16 onde a Arábia Saudita seguiu de forma unilateral uma estratégia de recuperação de quota de mercado para impedir que os produtores de xisto norte-Americanos ganhassem quota de mercado. A recusa Russa em continuar os cortes previstos no acordo de 2016 é que convenceu a liderança Saudita a regressar para uma estratégia de recuperação de quota de mercado com o aumento da produção e descontos de preço no seu crude e neste momento estão a produzir cerca de 12 milhões Bpd, de uma base de cerca de 10 milhões Bpd.

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* Professor no Mestrado na disciplina de Direito de Petróleo e Gás na Faculdade de Direito

da Universidade Nova de Lisboa