A presença no terreno, o contacto com as pessoas, com as suas realidades, as suas alegrias e dificuldades, as suas expectativas e frustrações. Cada abordagem foi um interessante aprendizado, em cada sorriso uma demonstração de afecto, em cada olhar um misto de incerteza e esperança.

O jornalismo que escrutina, aborda e questiona acabou envolvido numa realidade de contrastes. Vimos fome, pobreza, desnutrição, desemprego e desalento. Vimos, também, coragem, força, vigor, resiliência e esperança no futuro. Fomos confrontados com uma realidade que nos surpreendeu nos mais variados sentidos. Acima de tudo, deixaram-nos esta mensagem de que esta é mais uma crise e que, tal como outras que por cá passaram, será combatida e vencida. Será (e já tem sido) combatida pela tenacidade, união, visão, capacidade de adaptação e "reinvenção" dos benguelenses.


Exímios na arte de bem receber, os benguelenses contagiaram-nos pela sua informalidade, simplicidade e humildade. Nas administrações municipais do Cubal, Lobito e Benguela, no Porto do Lobito e nos Caminhos-de-Ferro de Benguela, fizeram que nos sentíssemos em casa e trataram-nos com grande respeito e estima. Revelaram conhecer a força, o poder, a missão e a pedagogia do jornalismo e o papel dos jornalistas neste momento difícil que todos vivemos.


O jornalismo e jornalistas, muitas vezes hostilizados, desvalorizados, desrespeitados, excluídos, rotulados e vistos como um temível contrapoder, foram tratados com dignidade e estima. Igual tratamento foi-nos dispensando pelos colegas da comunicação social benguelense, nomeadamente: Rádio Benguela, Rádio Lobito, Rádio Eclésia, Rádio Mais, Rádio Morena, TPA, TV Zimbo e outros, a titulo individual, que demostraram grande profissionalismo, disponibilidade e cultura de compromisso. Foi bom perceber o alcance e a credibilidade do NJ em Benguela.

Foi gratificante e prazeroso ver Benguela "jornalar" este semanário. Os jovens e kotas no Dombe Grande a indagarem os meus colegas por causa dos títulos e a discutirem entre si os conteúdos. É ver os habitantes da Catumbela "devorarem" o jornal de fio a pavio. No Cubal e Lobito, ficou o "cheiro" do jornal que há muito não é sentido (na realidade já não é sentido em quase toda a província). Ver cada pessoa folhear, percorrer as páginas do NJ ou do "primo como irmão", o Expansão, reforça em nós a ideia de que "desluandizar" o jornalismo é mesmo uma obrigação.


Se Coimbra tem mais encantos na hora da despedida, Benguela e as suas gentes revelam logo todo o seu encanto e hospitalidade já à chegada. E só foi possível cá chegar por causa de amigos e instituições que nos apoiaram, sendo que este "desluandizar" o jornalismo, esta produção de conteúdos, jornalismo de proximidade e "jornalar" o NJ, que fizemos nestas duas semanas como director, partilho com toda a equipa do NJ, da redacção central em Luanda e da "redacção itinerante" que veio até Benguela. E dedico a quatro benguelenses, cuja amizade, respeito e carinho levarei sempre comigo: Adérito Areias, Luís Grilo, Ekumby David e Chiquinho Macedo. Com calma e com alma!