Em apenas 100 dias, Joe Biden e os seus comandados "revolucionaram" a administração norte-americana, com parte da imprensa do país a considerar, inclusive, que este início foi dos mais impressionantes de uma presidência americana.

Não é para menos! Ao analisarmos estes 100 dias, não há como ficar indiferente ao que Joe Biden e a sua equipa realizaram.

Vejamos, por exemplo, algumas das mais significativas:

? pacote de estímulos à economia de 1,9 biliões de dólares;

? regresso oficial ao Acordo de Paris;

? cimeira virtual sobre o clima;

? pacote legislativo tendo em vista o controlo de armas;

? provável acordo com o Irão na questão nuclear;

? início de um novo sistema tributário.

Se há políticos que preferem não "apostar todas as suas fichas" nos primeiros 100 dias, mas diluir o que pretendem ao longo dos anos, Joe Biden fez, precisamente, o contrário. Acreditamos que a opção foi mais que válida, principalmente devido a dois factores:

? apagar de imediato com os anos de Donald Trump na Casa Branca, demonstrando ao mundo que a sua administração era completamente distinta do seu antecessor;

? a pandemia.

Joe Biden compreendeu na perfeição que não tinha tempo, tinha de agir de imediato, fruto do triste legado de Trump e do triste presente da pandemia e as suas consequências. Os Estados Unidos necessitavam de uma resposta, e o novo Presidente do país soube ouvir esse "grito mudo" que poderia transformar-se num enorme problema para si e o seu Governo, caso o "silêncio" fosse ignorado.

Nos Estados Unidos, Biden já é comparado a Angela Merkel, Emmanuel Macron e Mario Draghi, líderes que, cada um à sua maneira, marcaram os seus governos, líderes transformacionais que o mundo actual de hoje procura quase como uma lupa, numa luta constante contra o populismo e a insatisfação geral.

Apesar de muitos duvidarem da sua qualidade para governar o principal país do mundo a par da China, mais pela sua idade do que por outra razão racional qualquer (78 anos), Joe Biden surpreendeu não só os norte-americanos e o mundo em geral, mas também o seu próprio partido e os rivais republicanos, com vários conservadores a elogiarem Biden em várias intervenções públicas.

Esta suposta "unanimidade" de Biden deve-se, em muito, à posição de o Presidente dos Estados Unidos não ter pregado o "nós contra eles", algo que foi apanágio de Trump e os seus correligionários. Logo no discurso de posse, Biden fez questão de salientar que era hora de a América ser uma.

«Meus compatriotas, no trabalho que temos pela frente, vamos precisar uns dos outros (...). A América depende de todos, é uma grande Nação, somos boas pessoas. Temos muito que fazer, há muito a sarar, muito a construir (...). É preciso mais que palavras, é preciso a coisa mais lúcida da democracia: unidade... unidade (...). O mundo está a ver-nos e esta é a minha mensagem: a América foi testada e surgiremos mais fortes não para responder aos desafios de ontem, mas aos de hoje e aos de amanhã. Iremos liderar pela força do nosso exemplo. Seremos um parceiro confiável para a paz e a segurança».

Mais do que meras palavras, Biden fez questão de demonstrar nesses 100 dias actos e factos para justificar o seu discurso, recolocando, deste modo, os Estados Unidos num papel que ocupou sempre no seu historial. Num mundo cada vez mais dividido e divergente, Joe Biden parece ter encontrado três temas centrais para a sua governação: Igualdade, Clima e Inclusão.

Como escrevemos no início, 100 dias não ditam um governo. Joe Biden terá agora de centrar a sua atenção nas reformas da saúde, habitação e fiscalidade, por exemplo.

No entanto, a estratégia utilizada neste "cartão de visita" foi meritório, com o "New Joe" a utilizar uma retórica modesta e cuidadosa e uma meia dúzia de objectivos políticos importantes, colocando ao mesmo tempo metas curtas para a sua conclusão.

Com isso, ganhou a confiança do seu país e do mundo, além de demonstrar que, em apenas 100 dias, é possível fazer-se muito na política.