Perante a barbaridade israelita contra as populações de Gaza, a opinião pública mundial, incluindo a diáspora africana nesses países, ergue a sua voz em solidariedade com a luta pela liberdade e autodeterminação do Povo palestiniano, vítima do apartheid imposto por Israel.
Há mais de 17 anos que os palestinianos de Gaza vivem numa prisão a céu aberto, privados das mais básicas necessidades humanas, perante a indiferença e co-responsabilidade das tais potências que estimulam Israel a continuar com a opressão.

Os bombardeamentos israelitas à região já causaram a morte a mais de 12 mil palestinianos, a destruição de edifícios residenciais civis, de organizações humanitárias, das Nações Unidas, escolas, hospitais e outras infra-estruturas. Actos alegadamente em retaliação aos violentos ataques do grupo islamita Hamas que provocaram 1200 mortos e pelo menos 200 reféns israelitas.
Entre as vítimas mortais, mais de quatro mil são crianças, significando que, em cada 10 minutos, Israel mata uma criança palestiniana e fere outras duas, segundo as Nações Unidas, sem que isso comova ou crie qualquer remorso aos senhores da Guerra.

A indiferença perante o assassinato de milhares de crianças palestinianas que, diferentemente das ucranianas, não são loiras de olhos azuis, traduz o racismo e a hipocrisia da Comunidade Internacional, nomeadamente do chamado mundo ocidental.

Em cerca de 300 ataques que provocaram escassez de bens essenciais como água, alimentos, medicamentos e combustível, Israel destruiu 21 dos 35 hospitais da Faixa de Gaza e 60 ambulâncias, das quais 45 ficaram completamente danificadas, bem como assassinou pelo menos 40 jornalistas, de acordo com o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).

Os ataques de Israel, que continua a ignorar o estatuto de inviolabilidade das instalações das Nações Unidas, já mataram mais de uma centena de funcionários da ONU e têm merecido a condenação do secretário-geral dessa organização mundial, para quem é "totalmente inaceitável" o número de civis mortos e feridos nesta guerra.

António Guterres sublinhou, e bem, no Conselho de Segurança da ONU, que os ataques do Hamas "não acontecem do nada", lembrando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".
Indignado com o primeiro genocídio televisionado da era do digital, e alertando para as consequências desta guerra, o secretário-geral da ONU adverte que "o mundo está a testemunhar uma catástrofe humanitária que se desenrola diante dos nossos olhos".
Alinhando pelo mesmo diapasão, a União Africana, através de Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão, recorda que "a negação dos direitos fundamentais do povo palestiniano, nomeadamente o de um Estado independente e soberano, é a principal causa da permanente tensão israelo-palestiniana".
Mahamat apela urgentemente a ambas as partes para que ponham fim às hostilidades militares e regressem, sem condições, à mesa das negociações.

Por seu lado, na região austral do continente, as autoridades da África do Sul, país que também suportou um regime de Apartheid, durante 46 longos anos, estão na linha da frente dos apoiantes da luta palestiniana contra o genocídio.
Na terra de Winnie, Oliver Tambo, Mandela, Sisulu, Ruth First, Biko ou Albertina Sisulu, o Chefe de Estado, Cyril Ramaphosa, tem encabeçado protestos, participando pessoalmente em manifestações, usando o keffiyeh (lenço palestiniano) ou reduzindo o nível das relações diplomáticas com Israel.
Pretória chamou os seus diplomatas em Telavive para "consulta", exigiu um "cessar-fogo imediato" na guerra entre Israel e a Palestina, bem como a libertação da Palestina e dignidade humana para as populações palestinianas, nomeadamente os mais de dois milhões de pessoas que na Faixa de Gaza vivem presas numa área de pouco mais de 360 quilómetros quadrados.
Diplomaticamente, a medida adoptada pela África do Sul representa um firme desagrado face ao comportamento do Estado em causa, no caso concreto contra o "genocídio" que está a ser executado por Israel com o beneplácito dos aliados ocidentais.

Ao chamar para consultas os seus diplomatas, o Governo de Cyril Ramaphosa assegurou que "um genocídio sob a vigilância da comunidade internacional não pode ser tolerado".
"É um crime de guerra Israel atacar directamente civis palestinianos em hospitais, ambulâncias, escolas, prédios e em seus carros particulares", ressalta, em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da África do Sul, país onde Julius Malema, líder do partido Combatentes da Liberdade Económica (EFF, sigla em inglês), lançou um apelo ao boicote total dos produtos israelitas.
Na mesma região, o Governo da Namíbia (vizinho da África do Sul e de Angola) esclareceu que "apesar de a guerra entre Israel e Palestina durar quase 80 anos, ainda existe uma recusa em reconhecer a ocupação prolongada, a expansão dos colonatos e a anexação como a causa profunda da crise".

Em declarações, nas Nações, Neville Melvin Gertze, embaixador namibiano, apelou à "cessação imediata deste conflito brutal", ao mesmo tempo que condenou "os ataques abomináveis contra civis, com o objectivo de destruir civis inocentes, o que equivale a um genocídio".
No entanto, é no Norte do continente africano, entre os países árabes, que se destacam as mais contundentes repulsas aos actos de Israel. Argélia e Tunísia são os Estados continentais que afirmaram as posições mais drásticas contra Israel.

Argel pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que responsabilize Telavive e o seu primeiro-ministro, Benjamim Netanyahu, pelos crimes cometidos contra os palestinianos da Faixa de Gaza.
"Onde está a humanidade?", "onde está a consciência do mundo, que decidiu se ausentar diante de tamanho genocídio"? - interrogou-se, de forma crítica, o Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, pondo em causa a credibilidade dos sistemas de justiça internacionais para a defesa dos povos oprimidos.
Na Tunisia, o Parlamento optou pela adopção de um projecto de lei inédito no país e na região que criminaliza qualquer forma de normalização com Israel, defendendo duras penas, nomeadamente a prisão perpétua.

No projecto de lei, composto por seis artigos, os autores, deputados do partido do Presidente da República, enfatizam que "estamos firmemente convencidos de que a Palestina deve ser libertada do rio até ao mar, que toda a pátria deve ser restaurada e que o Estado palestiniano deve ser estabelecido com a Cidade Santa de Jerusalém como capital".

Marrocos, que há três anos normalizou as relações com Israel e onde se assistem grandes manifestações populares de rua contra os bombardeamentos israelitas, condenou veementemente os ataques contra civis, instando a um "cessar imediato da violência" e defendendo o retorno à calma.
Na África Central, o Tchad, mesmo antes de Pretória, já tinha chamado os seus diplomatas, nomeadamente o encarregado de Negócios, para "consulta", mostrando, desta forma, a sua "indignação", pelos ataques israelitas à Faixa de Gaza.
"O Tchad condena a perda de vidas humanas de muitos civis inocentes e apela a um cessar-fogo que conduza a uma solução duradoura para a questão palestina", afirmou um porta-voz do governo de Ndjamena.

Todavia, em Cabo Verde, membro da Comunidade Ecobómica da africa Ocidental (CEDEAO), a abstenção do Governo na votação da resolução da Assembleia-Geral da ONU que defende uma "trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada" em Gaza e a rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o Sul do enclave, desencadeou uma tensão política entre o Executivo (MPD-direita) e o Presidente da República (PAICV-esquerda).
José Maria Neves criticou a opção do seu país, afirmando que "não se pode abster quando o assunto é o diálogo, a paz e o direito humanitário", acrescentando que "somos humanistas e respeitamos intransigentemente os direitos humanos!"

Para justificar o seu voto, o Governo da Praia alegou que a resolução, votada favoravelmente por 120 Estados, era "demasiado parcial, sem uma única palavra aos ataques do Hamas de 7 de Outubro".
As pressões mundiais, quer através de claras condenações do genocídio ou de gigantescas manifestações em todos os continentes, inclusive em países cujos Governos optaram por ficar "em cima do muro" para defender acordos políticos com Israel, já causaram algumas demissões, como no Governo de Londres, e estão a contribuir para algum, ainda discreto, reposicionamento de aliados de Israel que receiam estar a hipotecar o seu futuro político.