O chefe de gabinete do Presidente da República, segundo noticiou a estação de televisão portuguesa, recebeu milhões de dólares de origem desconhecida, mas com ligações alegadamente ilícitas à empresa EMFC.

"A ser verdade, é uma situação muito preocupante. Esperamos que as autoridades competentes façam um inquérito urgentemente para se apurar a veracidade dos factos", disse ao Novo Jornal o deputado da UNITA Alcides Sakala, salientando que o desvio do erário, a corrupção e o nepotismo atingem os governantes do partido no poder de uma forma que tem de ser travada urgentemente.

"Para maior credibilidade do combate à corrupção, ao nepotismo e ao desvio do erário público, o Governo deve aceitar submeter-se às acções de fiscalização, submeter-se às auditorias e o parlamento permitir a criação das Comissões Parlamentares de Inquéritos para aferir a seriedade deste combate", declarou Sakala.

De acordo com o deputado, para que este combate seja efectivo, "tem de se evoluir para uma real separação de poderes para que o poder judicial não sofra pressões políticas do Executivo para se evitar subordinar aos interesses do Governo e do Presidente da República em particular".

"Fica-se com a impressão de que existe efectivamente alguma promiscuidade entre o judicial e o Executivo, no que concerne às questões relacionadas com o combate a corrupção", ajuntou.

O membro do colégio presidencial da CASA-CE, Manuel Fernandes, expôs que perante estas denúncias, os implicados devem fazer um esclarecimento público para o bem das suas imagens.

"A investigação da televisão portuguesa, TVI 24, revelou negócios de Edeltrudes Costa em importantes contratos públicos que lhe terão alegadamente rendido milhões em euros. Cabe agora aos envolvidos fazer algum pronunciamento público", afirmou Manuel Fernandes.

Manuel Fernandes afirmou que a corrupção e o nepotismo devem ser combatidos por forma a "evitar que o Estado se transforme numa monarquia".

"O combate à corrupção e ao nepotismo exige intervenção judicial e de todas as classes sociais, por se tratar de crime nos ternos da Constituição. É muito complicado ouvir sempre essas denúncias que envolvem figuras de relevo no País", juntou.

Para o analista político, Gilberto Guilhermino Jamba, "esta denúncia de que o Governo angolano estaria a favorecer o Gabinete Edeltrudes Costa, chefe do gabinete do Presidente da República, João Lourenço, através de contratos públicos com a empresa EMFC para a prestação de diversos serviços, vem mostrar que os vícios continuam".

"No antigo e no actual Executivo, estes vícios continuam. É momento da Procuradoria-Geral da República começar já a tomar medidas, porque os angolanos não podem continuar a observar em silêncio estes sucessivos escândalos", invocou, lamentando que a corrupção em Angola afecte fortemente os direitos fundamentais.

Para o analista "o abuso dos cargos públicos para ganho pessoal acaba a confiança das pessoas no Governo e nas instituições, reduz a eficácia da justiça das políticas públicas e desvia o dinheiro dos contribuintes".

Também Isabel dos Santos, empresária e filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, veio a público pronunciar-se, via Twitter, sobre este assunto, escrevendo: "Edeltrudes Costa terá enviado dinheiro para o Panamá, utilizando uma sucursal do então Banco Espírito Santo (BES) na zona franca da Madeira. Desde que João Lourenço assumiu o poder, que Edeltrudes Costa é o seu braço direito".

O Novo Jornal tentou, sem sucesso, ouvir o MPLA sobre este assunto.

Revelações da TVI 24

Uma reportagem da TVI 24 denunciou que o Governo angolano estaria a favorecer o chefe de Gabinete Edeltrudes Costa através de contratos públicos com a empresa EMFC para a prestação de diversos serviços.

Segundo a TVI 24, entre outras situações denunciadas esta um contracto que foi celebrado no início de 2019 para modernizar os aeroportos angolanos. Na documentação apresentada pela reportagem, o Presidente João Lourenço autorizaria a contratação da empresa portuguesa Roland Berger e a imediata subcontratação da EMFC.

O recurso adquirido pelo contracto celebrado em Fevereiro de 2019 foi parar em Portugal e teria sido utilizado para compras de imóveis de luxo em várias localidades portuguesas, como Sintra e Cascais.

Cargos não condizem com fortuna

Edeltrudes Costa foi secretário-geral de José Eduardo dos Santos com função de ministro de Estado e chefe da Casa Civil. A TVI24 relata que teve acesso a extractos bancários que mostram que este teria, em bancos portugueses, o equivalente a 20 milhões de euros, apesar de nunca ter ocupado oficialmente cargos que lhe rendessem grandes fortunas.

A fortuna teria sido usada para comprar a casa em Cascais no valor de 2,5 milhões de euros - que está no nome da ex-mulher de Costa e presidente do Conselho de Administração da EMFC.

O chefe de Gabinente de João Lourenço também comprou um barco de passeio em Portugal no valor de 130 mil euros e um apartamento de luxo numa propriedade do presidente norte-americano Donald Trump, no Panamá.

Segundo a reportagem, o recurso utilizado para a esta última aquisição teria passado pelo Banco Espírito Santo, na Zona franca da Madeira, que é o elemento que Isabel dos Santos optou por destacar no seu tweet.

O banco central português teria investigado as transferências envolvendo a empresa de Costa, tendo por base "falhas graves na prevenção de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo", segundo a TVI 24.

A TVI 24 também refere uma prestação de serviço para a Comissão Nacional Eleitoral no último pleito realizado em Angola. O negócio rendeu a Costa um milhão de euros para fornecer material para o escrutínio vencido por João Lourenço.