Os dois analistas sustentam a tese de que a CNE devia estar em campo muito antes da convocação das eleições e consideram que a instituição apenas marcou posição para determinar os tempos de antenas dos partidos concorrentes às eleições de 24 de Agosto, deixando muitas questões sobre o processo sem esclarecimento.

Sobre o comportamento dos cidadãos, o reverendo Ntoni-a-Nzinga considerou ser exemplar e democrático, uma vez que, apesar das acusações de algumas forças politicas, não se verificarem incidentes por partes dos militantes dos diversos partidos.

Pensamento idêntico tem o director executivo do Instituto Angolano de Sistemas Eleitorais, Luís Jimbo, que reconhece ter havido uma evolução muito grande dos cidadãos.

Segundo Luís Jimbo, os eleitores de 2022 evoluíram bastante e estão agora mais exigentes e maduros dos que votaram em 2012 e 2017.

Os dois analistas políticos criticam a condução do processo eleitoral por parte da CNE neste período, e entendem que não informaram com clareza sobre os porquês de existirem na base de dados nomes de cidadãos já falecidos e o motivo da não afixação das listas nas assembleias de votos.

"A CNE prepara há menos de duas semanas os cidadãos que vão ser os delegados de mesa. Em países por onde passei como observador eleitoral, nunca vi uma coisa destas. Isto devia ter sido preparado há muito tempo e nesta já estariam a pôr em prática aquilo que aprenderam", sustenta Ntoni-a-Nzinga.

Segundo este analista, a CNE decidiu que as eleições vão ter apenas 2.000 observadores eleitorais nacionais num País de 1.246.700 quilómetros quadrados, o que "é insignificante".

"Somos mais de 30 milhões de habitantes, a CNE preparou apenas 2.000 observadores eleitorais? Para quantas mesas de voto?", questiona. E acrescenta: "Nenhum País onde participei como observador desde 1989 vi este tipo de coisas".

"O número de 2.000 observadores eleitorais não chega, porque não vão estar em todos os pontos, o que vai acontecer depois de eles se ausentarem, ninguém vai saber", continuou.

"Porque que é que a CNE não preparou isso nestes cinco anos? Não se admite que os delegados de mesas sejam preparados em algumas horas. Os observadores internacionais vão chegar apenas uns dias antes do voto. Deveriam estar no terreno no mínimo duas semanas antes para observar o processo eleitoral, como acontece noutros países", explicou.

Para Ntoni-a-Nzinga, a transparência eleitoral deve ser uma preocupação séria e deve partir da própria CNE.

"Eles devem ser os primeiros a ser transparentes", disse.

Luís Jimbo comenta que a CNE esteve ausente em quase todas as fases do processo das eleições.

"Os partidos políticos estiveram em pré-campanha, a sociedade civil em educação cívica, o próprio Executivo em ambiente de registo eleitoral, infelizmente a CNE esteve ausente. Agora está como uma entidade nova, embora o processo seja próprio da CNE, que não está ajudar muito a esclarecer o próprio processo", disse.

O momento mais visível da CNE, prossegue Luís Jimbo, "foi apenas o da atribuição dos tempos de antena, na rádio e na televisão, e a instituição deixou de comunicar com os cidadãos sobre as questões problemáticas como a inclusão de falecidos no seu ficheiro e a não fixação das listas.

"Infelizmente a CNE não faz campanha de educação cívica eleitoral. Mas recebe dinheiro público para fazer campanha de educação cívica e informar-nos sobre o que querem fazer com este País, não é para nos manipularem", assegurou.

Ntoni-a-Nzinga considera insuficientes os cinco minutos dados a cada partido político e coligação concorrentes às eleições gerais por entender que "em cinco minutos não se passa ao público, de forma real, os programas de governo".

"Este é o momento em que a sociedade deve ouvir o que, na verdade os partidos querem, e conhecer os candidatos a deputados. Numa campanha eleitoral, que só ocorre em cada cinco anos, cinco minutos é insuficiente e não é está correcto", considerou.

Já Luís Jimbo considera normal e assegura que os partidos e os candidatos têm sabido aproveitar os seus tempos de antenas e passam a suas mensagens eleitoralistas, tanto a nível do partido, quanto ao nível dos candidatos à Presidente da República.

Ntoni-a-Nzinga criticou o modo de eleição directo do Presidente da República através do parlamento e não por indicação do povo.

Este reverendo da IASED é de opinião que os discursos estejam centrados nos programas dos partidos e não dos líderes dos partidos

O analista defende que os discursos estão mais dirigidos às pessoas e não ao sistema político que os partidos querem ter.

Ntoni-a-Nzinga lamentou, por outro lado, o facto de os candidatos a deputados não estarem a fazer campanhas nem a criarem debates que atraiam os militantes a votarem no representante do povo na Assembleia Nacional.

"Infelizmente todos vão votar para o candidato, por isso não considero isto uma campanha normal", disse, argumentado que "os candidatos a deputados deviam fazer também campanha eleitoral".

"O povo não tem esperança nas pessoas que os vão representar no Parlamento", defende Ntoni-a-Nzinga, que é a favor da revisão constitucional.

Quanto às promessas, Ntoni-a-Nzinga diz serem normais pelo facto de todos os políticos as fazerem em véspera das eleições.

Para Ntoni-a-Nzinga, a CNE peca pelo facto de ser constituída maioritariamente por membros do MPLA que é o partido governante.

"Não pode ser o próprio jogador a coordenar os adeptos no estádio de futebol. Os mesmos que estão a competir são os que depois vão decidir quem vai ganhar. Isso não pode ser, não se faz!", declarou Ntoni-a-Nzinga.

Em relação aos discursos dos candidatos, o reverendo lamentou que alguns candidatos estejam a atacar-se entre si.

"Este processo não é para trazer assuntos pessoais. Não. É para falarem daquilo que querem fazer. Quem quiser criticar, que critique nesta base e não no campo pessoal", concluiu.

Entretanto, o director executivo do Instituto Angolano de Sistemas Eleitorais (IASED), Luís Jimbo, é de opinião que nestes 15 dias houve evolução na campanha eleitoral dos candidatos à Presidência da República e dos candidatos à Assembleia Nacional, facto que para ele não se verificava no início do processo.

O analista político considera que no início apenas se observava a campanha dos candidatos à Presidência da República.

Luís Jimbo assegura ser fundamental os líderes concentrarem-se no discurso da promessas.

"O discurso de JLO parte do princípio daquilo que fez bem e que teve impacto na vida dos cidadãos. Com destaque para o sector da saúde, é a isso que o presidente do MPLA se agarra", referiu.

Segundo Luís Jimbo, a estratégia do João Lourenço é não lançar mãos à bandeira do combate à corrupção no sentido de não dividir, internamente, a motivação do partido.

"Senão seria o próprio MPLA a julgar-se a si mesmo. E acho que essa é a questão ponderada do discurso da corrupção".

Quanto ao discurso de Adalberto Costa Júnior (ACJ), Luís Jimbo considera que o líder da UNITA está focalizado na narrativa da preocupação da juventude, que é quem mais se queixa.

"A grande bandeira de ACJ é a ideia de inclusão, visto que na sua lista de candidatos a deputados constam nomes do projecto político PRA-JA, do partido político Bloco de Democrático e ainda membros da sociedade civil. Isso mostra que a proposta da UNITA é de governar com todos e isso tem sido visível durante a sua campanha".

Luís Jimbo é de opinião que a maior competição política está centrada na luta do poder entre o MPLA e a UNITA.

Os analistas Ntoni-a-Nzinga e Luís Jimbo foram unânimes em reconhecer que a população tem agora uma maior maturidade democrática.

Estão autorizados a concorrer às eleições gerais de 24 de Agosto os partidos MPLA, UNITA, PRS, FNLA, APN, PHA e P-NJANGO e a coligação CASA-CE.Do total de 14,399 milhões de eleitores esperados nas urnas, 22.560 são da diáspora, distribuídos por 25 cidades de 12 países de África, Europa e América.

A votação no exterior terá lugar em países como a África do Sul (Pretória, Cidade do Cabo e Joanesburgo), a Namíbia (Windhoek, Oshakati e Rundu) e a República Democrática do Congo (Kinshasa, Lubumbashi e Matadi).

Ainda no continente africano, poderão votar os angolanos residentes no Congo (Brazzaville, Dolisie e Ponta Negra) e na Zâmbia (Lusaka, Mongu, Solwezi).

A Comissão Nacional Eleitoral criou 13.238 assembleias de voto, constituídas por 26.443 mesas, no território nacional, enquanto que para a votação dos eleitores inscritos no estrangeiro foram criadas 26 assembleias de voto com 45 mesas de voto. Para este total de mesas de voto foram recrutados 105.952 membros.