Se o MPLA vencer as eleições do próximo ano, João Lourenço, natural do Lobito, Benguela, sucede a José Eduardo dos Santos na Presidência da República e, se se confirmar a saída da política activa do presidente do histórico partido angolano, como disse que faria em Março deste ano, será, naturalmente, o líder desta força política, que comanda os destinos do país desde a sua fundação a 11 de Novembro de 1975.

João Manuel Gonçalves Lourenço, de seu nome completo, é casado com Ana Dias Lourenço e é filho do enfermeiro Sequeira João Lourenço, natural de Malange e da costureira Josefa Gonçalves Cipriano Lourenço, natural do Namibe, ambos já falecidos.

Esta não é a primeira vez que este militar de carreira e historiador, pai de seis filhos, se perfila para suceder a José Eduardo dos Santos.

Nos primeiros anos deste século, quando era há quase 20 secretário-geral do MPLA e líder da sua bancada parlamentar, perante a demonstração pública de vontade de sair do "chefe", apresentou-se na corrida à sua sucessão... José Eduardo dos Santos não saiu e Lourenço ficou, até 2014, "sentado" no Parlamento como vice-presidente da Assembleia Nacional, numa suave travessia do deserto.

General respeitado inter pares, João Lourenço soube esperar e, como agora se vê, com a sua indicação pelo Comité Central do MPLA que na sexta-feira, 02, esteve reunido para esse fim, prepara-se para encabeçar a lista do MPLA às eleições de Agosto de 2017.

Não deixou créditos em mãos alheias e está agora colocado em lugar de destaque para assumir a chefia dos destinos do país, com o actual ministro da Administração Territorial, Bornito de Sousa, no lugar seguinte da lista e, em caso de vitória eleitoral, seu Vice-presidente.

Mas nem tudo são facilidades e a fasquia está colocada alta. Para além de faltar a indicação oficial do CC do MPLA, que deverá acontecer a 10 de Dezembro, por ocasião do 60º aniversário da fundação do partido, Lourenço e Bornito de Sousa já têm o resultado mínimo aceitável traçado pelo histórico líder e PR, José Eduardo dos Santos, que afirmou na abertura do conclave onde foi desenhado o mapa das lideranças futuras: ganhar com maioria qualificada ou, no mínimo, absoluta...

João Lourenço e Bornito de Sousa, como têm sublinhado os muitos analistas políticos angolanos, têm para apresentar ao eleitorado, num país que tem, olhando para os índices internacionais sobre a matéria, um sério problema com a corrupção e falha de probidade, uma folha limpa, não sendo conhecidos casos envolvendo os seus nomes.

Se o currículo militar permite ao general na reserva João Lourenço lidar com esperada competência com a estratégia e expectativa dos adversários políticos, já o também experimentado jogador de xadrez, tem obrigação de lidar de forma aveludada com algumas fricções internas, que alguns apontam existirem, por se tratar de um general.

Isso, porque esta é a primeira vez que o partido, provavelmente depois de 2018, e o país, já em 2017, se o MPLA ganhar as eleições, serão liderado por um militar, podendo isso trazer negativamente à memória o pesado passado bélico que Angola atravessou desde 1961, com a guerra pela independência, e depois de 1975, com a beligerância pelo domínio militar entre os velhos rivais, UNITA e MPLA, até 2002.

Numa coisa os analistas estão mais ou menos de acordo: com a saída de cena de José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979, altura em que substitui o fundador Agostinho Neto, o MPLA, com Lourenço a cabeça de lista - seria o mesmo com qualquer outro nome -, não terá a vida facilitada... acrescentando-se a esse dado, a questão da grave crise económica que o país atravessa por causa da queda do preço do petróleo e porque o país não diversificou a sua economia atempadamente, quando o tempo era de bonança.

O seu curriculum académico oficial, João Lourenço, um poliglota que fala quatro línguas (português, russo, inglês e espanhol), informa que fez os estudos primários e secundários na província do Bié, onde o pai se encontrava, na situação de residência vigiada por 10 anos após ter estado preso por três anos, na prisão de são Paulo em Luanda, pelo exercício de actividade política clandestina enquanto enfermeiro do porto do Lobito.

Deu, depois, continuidade aos estudos em Luanda no então Instituto Industrial de Luanda.

Mas o seu percurso político vem de longe, como o próprio informa: "após a queda do regime fascista em Portugal, na companhia de outros jovens, juntou-se à luta de libertação nacional em Ponta Negra, em Agosto de 1974".

Integrou o primeiro grupo de combatentes que entraram em território nacional via Miconge-Belize- Buco Zau- Dinge-Cabinda e, em vésperas da independência, participou dos combatentes na fronteira do N`to/Yema contra a coligação FNLA/Exército Zairense, que derrotaram e a partir do morro do Tchizo em Cabinda contra a unidade da FNLA que se encontrava nas margens do rio Lucala à entrada da cidade.

Ainda tirado do seu curriculo oficial, sabe-se que tem formação em artilharia pesada, exerceu as funções de Comissário política em diversos escalões, desde pelotão, companhia, batalhão, brigada e comissário da 2ª Região político-militar Cabinda, entre 1977/78.

Este na então União Soviética de 1978 a 1982, na Academia Superior Lenine, de onde, para além da formação militar, trouxe o título de Master em Ciências Históricas.

De 1983 a 1986 desempenhou as funções de Comissário Provincial do Moxico e Presidente do Conselho Militar Regional da 3ª Região Politico Militar.

De 1986 a 1989, desempenhou as funções de 1ª Secretario do MPLA e de Comissário Provincial de Benguela.

De 1989 a 1990 desempenhou as funções de Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA, em substituição do General Francisco Magalhães Paiva N"Vunda, nomeado Ministro.

Entre 1991 e 1998 desempenhou as funções de Secretario do Bureau Politico para a informação, de Secretário do Bureau Politico para a esfera Económica, por um curto período de tempo, e de Chefe da Bancada Parlamentar do MPLA.

Nos próximos anos saber-se-á que mais poderá acrescentar ao seu currículo.