Este foi o primeiro inquérito realizado no país pelo Afrobarómetro que a própria instituição, no seu site oficial, sublinha que deixou a descoberto "vulnerabilidades socioeconómicas profundas"

O mesmo documento deixa em evidência que as dificuldades acumuladas pelas população angolana no ano passado tornou "extremamente penoso" o cumprimento das medidas criadas pelo Executivo angolano, no âmbito do estado de emergência, para conter a pandemia da Covid-19.

Este estudo de opinião pública foi elaborado entre Novembro e Dezembro de 2019, onde ficou claro para os investigadores que "mais de um terço dos angolanos sofreu situações de pobreza extrema" ao longo do ano, cujas razões estão quase sempre na privação dos salários e de outras formas de rendimento que afastaram as pessoas dos bens essenciais.

Sobre este estudo, o Afrobarómetro, que esteve vários anos a procurar espaço para trabalhar em Angola mas nem sempre isso foi caminho fácil, como dizia, em entrevista ao Novo Jornal em Agosto de 2018 o seu director-executivo, o ganês Emmanuel Gyimah-Boadi, procura analisar o impacto da situação encontrada em 2019 no actual estado em que Angola se encontra, com medidas, como noutros países em todo o mundo, draconianas para debelar a pandemia do novo coronavírus que surgiu em Dezembro último na China.

Sobre este contexto, os autores do estudo lembram que, "embora pareça haver um amplo acordo entre actores políticos e cidadãos de que as medidas sãocnecessárias, aquelas descobertas desafiam o governo e os parceiros do desenvolvimento a implementar estratégias que possibilitem mitigar o impacto do cumprimento das medidas sanitárias pelas famílias mais carenciadas".

As principais conclusões deste estudo, destacadas pelos autores, são que "mais de um terço (35%) dos angolanos viveu em situação de "extrema pobreza" durante o ano anterior à pesquisa, o que significa que eles sofreram frequentemente com a escassez de alimentos, água potável, assistência médica e medicamentosa, combustível para cozinhar e de salário ou outros rendimentos".

"Aproximadamente a mesma proporção (34%) experimentou a pobreza moderada. Apenas 7% relataram não ter vivido situações de escassez de bens essenciais", sendo que as situações de "pobreza extrema" foram mais frequentes nas zonas rurais (46%, contra 30% nas áreas urbanas) e na regiões Leste (51%) e Sul (41%).

Mais de um terço (36%) dos angolanos ficou sem salários ou outros rendimentos "muitas vezes" ou "sempre" durante o ano anterior à pesquisa, além dos 32% que viveram esta situação "apenas uma ou duas vezes" ou "várias vezes." Apenas um em cada quatro (26%) tiveram regularmente salários ou outros rendimentos.

Ou ainda o facto de "dois terços (67%) dos angolanos terem ficado sem comida suficiente pelo menos uma vez durante o ano de 2018, incluindo um em cada cinco (21%) que ficaram "muitas vezes" ou "sempre". A falta de comida suficiente foi mais frequente nas regiões Leste (77%) e Centro Norte (70%).