Depois do Kuando Kubango, esta ameaça alada, vinda de países vizinhos, como o norte da Namíbia, e, pelo leste, da Zâmbia, compostas por enxames de gafanhotos com centenas de milhares de insectos, está agora a destruir hectares de culturas de massango, massambala e milho no Cunene.

As áreas mais afectadas, para já, nesta província do sul de Angola, uma das mais devastadas há vários anos pela seca, com milhares de pessoas a fugirem para a Namíbia em busca de alimentos e trabalho, como o Novo Jornal tem estado a noticiar, estão no município de Namacunde, nas localidades de de Chiedi e Oipembe.

Citado pela Angop, o director do gabinete provincial da Agricultura, Pedro Tiberio, avançou que já foram alertadas as autoridades centrais do Ministério da Agricultura porque se impõe debelar esta praga de imediato de forma a não alastrar para outras áreas da província e do País.

Este responsável adiantou que se trata da praga de gafanhotos que tem estado a afectar o Kuando Kubango e o norte da Namíbia.

Recorde-se que, para fazer face a este problema, como o Novo Jornal noticiou a 09 de Março, Angola, Namíbia, RDC e Zâmbia estão a unir esforços para combater estes insectos que têm um poder gigantesco de destruição de culturas essenciais para a sobrevivência das comunidades por onde passam, como é disso exemplo o que ocorreu na África Oriental, nos últimos três anos.

Face a esta situação, os quatro países, de forma a evitar uma grave crise alimentar, que se vem juntar aos estragos gerados pela prolongada seca, em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estão a criar condições para uma pulverização com insecticidas a partir do ar para controlar o avanço desta praga, que, em Angola, já devastou dezenas de hectares na vizinha província do Kuando Kubango.

É sabido, pela experiência adquirida noutras regiões de África e da Ásia, onde este problema ocorre com mais frequência, que sem meios aéreos para espalhar insecticidas directamente sobre os insectos (como na foto), este problema não pode ser combatido eficazmente.

E a ameaça tende, vaga após vaga, a crescer porque os insectos, tendo alimentos disponíveis, que é quase tudo que seja verdura, se multiplicam a uma velocidade impossível de controlar sem o devido controlo químico, podendo os enxames atingir milhões de indivíduos, que, à medida que avançam, deixam larvas pelo caminho, que são futuras pragas e em cada vez maior número e capacidade devastadora.

Foi o que sucedeu a partir de 2018, na África Oriental, quando alguns milhares de gafanhotos do deserto foram arrastados pelos ventos do deserto arábico, e começaram a reproduzir-se com fúria no continente africano, ameaçando de fome mais de 20 milhões de pessoas, onde o problema anda não está totalmente debelado.

Esta praga que teve início na área desertica do Iémen, acabou por evoluir igualmente para leste, chegando mesmo à China e ao Paquistão.

Os países mais afectados foram o Quénia, a Somália, a Etiópia, tendo mesmo chegado à região dos Grandes Lagos, como o Uganda e o Burundi, descendo depois pela Tanzânia, no caminho destes enxames, nalguns casos atingindo os 150 milhões de gafanhotos.

E este tipo de ameaça existe agora nesta região da África Austral, abrangendo o sul de Angola, o norte das Namíbia e, para leste e nordeste, a zâmia e a RDC, onde o problema poderá ganhar outra dimensão se nada for feito para conter a expansão dos enxames.