"A revisão da Perspectiva de Evolução da economia de Estável para Negativa reflecte a deterioração das métricas da dívida, a contínua queda das reservas externas e uma recuperação económica adiada e mais lenta do que o previsto", escrevem os analistas na explicação que sustenta a ação de 'rating'.

A Fitch mantém a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B, abaixo da recomendação de investimento, ou seja, 'lixo' ou 'junk', como é normalmente conhecido, argumentando com "a capacidade do Governo para realizar ajustamento macroeconómicos significativos e os grandes recursos naturais, que são contrapostos por uma forte dependência da produção de petróleo, que está em declínio, e pela inflacção elevada e fraquezas estruturais".

"O nível de dívida pública continuou a aumentar de 80,2% do PIB, em 2018, para 83,8% este ano, segundo as nossas previsões", escreve a Fitch, notando que este rácio está "bem acima da média dos países com uma nota 'B', nos 59,1%.

O nível de dívida seria ainda maior se as contas da Sonangol fossem incluídas, o que elevaria 88,8% este ano, diz a Fitch, notando que uma parte desta deterioração nas métricas da dívida "é o resultado da depreciação do kwanza, apesar de que alguns dos riscos sobre a liquidez da moeda externa estão mitigados, de alguma forma, pelo facto de o governo receber a maioria das suas receitas em dólares".

As reservas em moeda estrangeira caíram para 15 mil milhões de dólares no final de Maio, perdendo 400 milhões face ao valor de Dezembro de 2018, o que representa o número mais baixo dos últimos nove anos, escrevem os analistas da Fitch, notando que só no ano passado o montante de reservas de Angola em moeda estrangeiro caiu 11,7%, ou seja, 2.000 milhões de dólares.

Quanto às perspectivas macroeconómicas, a Fitch antevê um crescimento de 0,4% este ano, considerando que "a queda nas exportações de petróleo e a contracção da liquidez da moeda externa, bem como a erosão do poder de compra, deprimiram a procura interna e causaram uma contracção do PIB por três anos consecutivos".

A descida na produção de petróleo, de 1,73 milhões de barris diários entre 2008 a 2017, para 1,49 milhões de barris por dia em 2018 e 1,26 milhões no primeiro trimestre deste ano, foram outras razões que motivaram a deterioração da economia angolana, mas a Fitch prevê que, com a nova produção de petróleo no Kaombo Sul, a produção de petróleo este ano possa aproximar-se dos 1,44 milhões de barris.

O problema, salientam, é que mesmo que a nova produção seja suficiente para compensar o declínio dos poços actuais, "o crescimento do PIB de Angola a médio prazo seria, ainda assim, apenas à volta dos 3% ao ano".