A valer praticamente 58,98 USD cerca das 09:40, o barril de Brent voltou ao verde impulsionado por uma inesperada e substancial descida nos stocks norte-americanos e ainda uma ligeira inversão dos dados do crescimento económico na maior economia planetária que nos últimos dias estiveram na génese de um depressão nas bolsas mundiais.

Em números, esta reviravolta naquilo que parecia ser, aos olhos dos analistas, uma descida aos infernos para as economias dependentes das exportações de crude, deve-se a uma inusitada mudança nos dados avançados pelo Instituto Americano do Petróleo que, contrariamente ao esperado aumento em 1,6 milhões de barris nos stocks dos EUA, mostrou que estes tinham, afinal, tombado uns inacreditáveis 5,9 milhões de barris.

As quedas e subidas nos stocks norte-americanos nesta ordem de grandeza não são anormais, sendo-o, de facto, neste caso, porque a expectativa era de crescimento e não de esvaziamento., o que levou os mercados a procurar explicações e, no entretanto, por precaução, os preços aumentaram de imediato, tanto no Brent de Londres, como no WTI nova-iorquino, o outro grande benchmark do sector.

Mas, na perspectiva dos países produtores, com destaque para os mais dependentes das exportações de crude, como Angola, Nigéria, Venezuela ou mesmo a Arábia Saudita, as noticias, por estes dias, estão longe de ser brilhantes.

Isto, porque o barril de Brent, ou do WTI, estão a valer menos que no dia anterior aos ataques de 14 de Setembro à infra-estrutura petrolífera da Arábia Saudita, que deixaram em escombros parte da maior refinaria do mundo, a de Abqaiq, deixando ao maior exportador do mundo quase 6 milhões de barris por dia offline e um longo e caro calvário pela frente para recuperar dos estragos, que incidiram ainda sobre um grande campo produtivo na região de Khurais.

No dia anterior aos ataques, um Sábado, 14 de Setembro, o barril de Brent valia perto de 61 USD e na segunda-feira seguinte deu um salto vertiginoso abeirando-se dos 70, o que se revelou como a maior subida num só dia desde a I Guerra do Golfo, com os gráficos a mostrarem uma escalada de 19,5%.

Mas tudo se desmoronou nos dias subsequentes, com as promessas dos Estados Unidos em libertar uma parte das suas gigantescas reservas estratégicas, na ordem dos 4,1 mil milhões de barris, que, ainda assim, se quedam muito longe das suas reservas "normais", na ordem dos 36, 4 mil milhões de barris.

Esta promessa, para suprir a falha gerada nos mercados pelos ataques na Arábia Saudita, foi feita de forma a garantir, como é do estratégico interesse eleitoral do Presidente Donald Trump, que tem eleições em 2020 para ganhar e ser reconduzido no cargo, que os combustíveis permaneceriam controlados a partir de um controlo efectivo sobre o valor do barril de crude nos mercados.

Alias, uma das razões apontadas pelos analistas para retracção da tensão militar entre sauditas e norte-americanos e os iranianos, a quem acusam de estar por detrás dos ataques a Abqaiq e Khurais, no dia 14 de Setembro, apesar de os rebeldes Houthis, do Iémen, os terem reivindicado, é que Donald Trump não pode arriscar uma punição eleitoral em Novembro do ano que vem devido ao brutal aumento do preço da gasolina que se seguiria ao aumento do valor do barril que seria a consequências mais imediata de um conflito aberto no Médio Oriente.

E, aparentemente, este foco de tensão deverá deixar de ser combustível para novos aumentos do valor do barril - que, pragmaticamente, não interessa a Angola devido à sua dependência ainda do petróleo - porque o Irão e a Arábia Saudita, dois inimigos históricos, estão a mostrar vontade mútua de enveredar por caminhos menos agressivos e encontrar pontos de contacto diplomáticos.

Isso mesmo parece demosntrar o facto de os dois ministros que tutelam o sector petrolífero, o iraniano BIjan Zanganeh, e o saudita Abdulaziz bin Salman, estarem a entabular conversações para um histórico encontro amigável, sendo, todavia, isso ainda uma possibilidade que exige confirmação, porque, segundo relata a Reuters, os iranianos dizem que ainda existem reticências do lado saudita.

Porém, se esse encontro vier a acontecer, é de esperar que o crude viva por algum tempo um período de baixos preços sem rupturas no abastecimento e ainda com a almofada da guerra comercial entre os EUA e a China, que em gerado uma diminuição do ímpeto do crescimento da economia mundial, prejudicando directa e pesadamente os interesses de Angola.