Sergei Lavrov, citado pela russa RT, a partir de uma entrevista a um jornal indonésio, o Kompas, de Jacarta, não apenas garantiu que, depois das reuniões em Istambul entre delegações dos dois países beligerantes, o diálogo não terminou.

Mas o chefe da diplomacia do Kremlin admitiu que Moscovo não abdica de manter como condição sem alternativa para desatar o nó que atrapalha o desenrolar da diplomacia em direcção à paz é levar Kiev a aceitar abordar seriamente as "raízes do problema" que levaram à intervenção russa a 24 de Fevereiro de 2022.

Lavrov sublinhou ao Kompas que a Federação Russa continua disponível, ao que tudo indica, agora com mais empenho e disponibilidade para lubrificar esse percurso, para acabar com a guerra pela via do diálogo e da diplomacia assumindo "passos concretos nessa direcção".

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros avançou ainda que a actual fase do diálogo directo com os ucranianos passa por "cada uma das partes apresentar os pré-requisitos mínimos para dar continuidade ao trabalho das equipas negociais", sem, contudo, apresentar o calendário do próximo encontro.

Porém, estas palavras menos ácidas de Lavrov não correspondem a uma menor solidez das exigências de Moscovo, porque o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação acrescentou que "a paz será impossível sem erradicar as causas profundas" que levaram à guerra desde logo.

Nomeou como a mais problemática a questão da adesão da Ucrânia à NATO e o arrastar dos países ocidentais de Kiev para a sua estratégia agressiva para com a Rússia", na qual incluiu a questão da presença de forças ocidentais em solo ucraniano antes e depois da assinatura de um acordo de paz.

"Essas ameaças devem desaparecer e no lugar desenhar um novo modelo de segurança global para a Europa deve surgir, dentro do qual estará o modelo de segurança aceitável para russos e ucranianos", atirou Lavrov.

Esta entrevista a Sergei Lavrov surge depois de em Pequim, durante um encontro com o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, o Presidente Vladimir Putin ter voltado, depois de longos meses sem o referir, é certo, que Moscovo está disponível para analisar as garantias de segurança que Kiev exige para dar por findo o conflito.

Nesse mesmo encontro, recorde-se, Robert Fico, o único líder da Europa comunitária que esteve na China, para a reunião da SCO (ver link em baixo), usou uma alegoria corrosiva para explicar o actual sentimento no seio da União Europeia: é um grupo de sapos no fundo de um poço que não sabe o que se passa fora daquele buraco e decide tudo em função do que vê à sua volta apenas.

E o que a União Europeia e o Reino Unido vê é que a Rússia deve ser derrotada no campo de batalha, como parecem defender ainda os seus lideres, como, de resto, é reafirmado sempre que estes se reúnem, o que vai voltar a suceder por estes dias em Paris e sobre o qual o chanceler alemão, Friedrich Merz, o mais assanhado falcão de guerra anti-russo do grupo, disse que tem de agir em conformidade com o facto de "Putin ser o maior criminoso de guerra da actualidade".

O desejo de Merz, mas também do francês Emmanuel Macron, que foi o primeiro a verbaliza-lo, e do britânico Keir Starmer é conseguir convencer os EUA a entrar na guerra contra a Rússia, porque se tal suceder, com a protecção de Washington, estes três países, pelo menos, estão disponíveis para avançar para a frente de batalha contra Moscovo e Putin.

Em tempos, o ex-Presidente dos EUA, Joe Biden, e o russo, Vladimir Putin, concordaram que no dia em que países da NATO e a Rússia trocarem o primeiro tiro directamente, esse momento assinalará o início da III Guerra Mundial e o inevitável Armagedão nuclear.