O Congresso norte-americano é constituído por duas câmaras, a baixa, dos Representantes, actualmente liderada pelos democratas, e o Senado, a câmara alta, controlada pelos republicanos, sendo exigida uma votação de dois terços para que o impeachment possa ser accionado, e é isso que está a suceder actualmente, faltando a decisão dos 100 senadores para que seja traçado o destino de Trump.

Mesmo faltando seis dias para deixar o cargo, este processo tem uma substancial importância para o Presidente, porque este já deixou entender, de forma repetida, que pretende voltar a candidatar-se em 2024 para voltar poder "fazer a América grande de novo" e se a destituição avançar, mesmo que seja concluída após a sua saída do cargo, isso implica que este não possa voltar a concorrer para Presidente dos EUA.

Por detrás deste processo de impeachment, o segundo nos quatro anos de mandato de Donald Trump - o primeiro foi devido à chantagem ao Presidente da Ucrânia - está o episódio do assalto ao Capitólio, edifício em Washington onde funciona o Congresso, por milhares dos seus apoiantes mais radicais, tendo sido um discurso inflamado proferido em frente à Casa Branca que o despoletou.

Os democratas ainda tentaram fazer com que o vice-Presidente Mike Pence optasse por accionar a 25ª emenda da Constituição, que permite afastar o Presidente por incapacidade para o cargo, mas isso obrigaria a que uma maioria dos seus secretários (ministros) se pusesse de acordo e apoiasse Pence nesse sentido, o que foi rejeitado.

E foi só depois desse passo falhado que os democratas, alegando como motivo o "impulso para a insurreição", abriram mais um processo de destituição do Presidente Trump.

Recorde-se que na quarta-feira, 06, deste mês, milhares de apoiantes radicais de Trump entraram no Capitólio, vandalizaram os gabinetes dos "deputados", todo em directo nas TV"s de todo o mundo, tendo morrido cinco pessoas naquele que já é considerado como o episódio mais vergonhoso da democracia norte-americana em décadas.

Neste momento, a líder dos democratas na câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, está numa complexa batalha burocrática e jurídica para que a votação no Senado ocorra antes de 20 de Janeiro, quando o democrata Joe Biden assume o poder, de forma a que possa ser concluído o processo em tempo útil, podendo, depois, a restante tramitação ter lugar já após essa data.

Entretanto, claramente numa tentativa de evitar a humilhação da destituição na etapa derradeira do mandato, Trump veio a pública, em vídeo, divulgar uma mensagem onde condena o assalto ao Capitólio e onde defende que os protagonistas deste episódio bizarro na história dos EUA, sejam "implacavelmente condenados" porque o país foi erguido com base "na lei e na ordem" e a sua "missão histórica de fazer a América grande de novo" não passa por renegar esses valores.

Este processo está, no entanto, predestinado a falhar, excepto se algo de extraordinário suceder, porque, apesar de nos Representantes, 10 republicanos tenham alinhado com os democratas, no Senado, a exigência de dois terços deverá garantir que Trump se safa da "condenação" mas não sai ilibado da história, porque é o primeiro Presidente em 231 anos de eleições a quem são abertos dois impeachments num único mandato.