"Quem morre pela pátria vive para sempre. Quando a pátria sangra, todo o sacrifício é pouco. Assim foi Jonas Savimbi, um revolucionário, um visionário, um construtor de uma sociedade de paz e de desenvolvimento e de unidade nacional", destacou Samakuva, ao longo de 35 minutos do "elogio fúnebre" ao presidente fundador do partido do "galo negro".

Tal como nas homenagens de dois filhos do ex-líder da UNITA, Durão Sakaíta e Helena Savimbi, Samakuva, desde 2003 à frente da formação que lidera a oposição, dirigiu-se ao fundador do partido tratando-o por tu, lembrando a luta contra a exclusão, "contra os angolanos de primeira e de segunda", pela preservação das línguas nacionais, contra a corrupção, peculato e impunidade.

"Este é o legado de Jonas Savimbi que, hoje, ironicamente, é afirmado pelos que estão no poder. Venceste de tal forma que esta luta foi votada agora pelos teus adversários", sublinhou Samakuva, aludindo a um dos lemas do Presidente angolano, João Lourenço, também líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Samakuva admitiu que Savimbi teve "práticas mal cometidas", sem as apontar, mas destacou que "não ofuscam nem comprometem os feitos alcançados", cuja dimensão histórica vem de "um líder revolucionário que fez história em Angola".

"A UNITA será sempre tua defensora, continua de pé e é hoje mais do que ontem. Está madura. Agradecemos-te profundamente os dois instrumentos que nos deixaste: a UNITA e Angola", acrescentou Samakuva que, até hoje, tinha evitado fazer discursos de cariz político, o que acabou por contrariar no "elogio fúnebre".

A partir deste ponto, Samakuva endossou as críticas, excluindo sempre João Lourenço, ao MPLA de José Eduardo dos Santos que, em 2002, após ter abatido Savimbi, "escondeu o corpo", só se sabendo muito mais tarde o paradeiro.

"[Mais recentemente] ficaram com medo do povo e sabotaram [o cerimonial e o programa das exéquias fúnebres] em três províncias [Moxico, Huambo e Bié]. Não faz mal. Assim como aprendemos a guerra, aprendemos a paz. Foi isto que nos ensinaste", sublinhou, garantindo que a UNITA "não tem medo do futuro".

Segundo Samakuva, é ideia da UNITA prestar, a partir de agora, homenagens a Savimbi em todas as restantes 17 províncias do país, "uma vez que o Estado não honra os seus filhos", disse, aludindo ao facto de o Governo angolano se ter recusado a organizar um funeral com honras de Estado.

"A dor e a sabotagem são o combustível para a vitória. Não somos de vingança. Só queremos a paz. Angola vai continuar a honrar os seus heróis e ninguém deve ter medo da paz. Honremos, pois, a memória de Jonas Savimbi, cuja obra perdurará para sempre", concluiu Samakuva.

Ainda no púlpito, Samakuva entregou ao primogénito de Savimbi, Durão Sakaíta, a "Medalha de Ouro do Galo Negro", agraciando o líder histórico da UNITA com o mais alto galardão do partido, pela "total entrega à luta pela liberdade, pela coragem e visão e pelo exímio condutor de homens", cujo preço foi o mais alto que alguém pode pagar: a morte.

O funeral de Jonas Savimbi decorreu hoje na terra natal dos seus pais, em Lopitanga, 30 quilómetros a oeste do Andulo, no norte da província do Bié.

"Coragem política" de Presidente João Lourenço

A família do líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, afirmou-se "finalmente em paz" com as exéquias fúnebres do marido, pai, tio e avô que teve lugar no Sábado e elogiou a "coragem política do Presidente angolano.

As afirmações foram proferidas, em nome da família, pelos primogénitos de Jonas Savimbi, Durão Sakaíta e Helena Savimbi, durante a cerimónia fúnebre que permitiu sepultar, 17 anos depois da morte, o líder histórico do "galo negro" na terra natal dos pais, Lopitanga, 30 quilómetros a oeste do Andulo, no norte da província angolana do Bié.

"Agradeço a presença de todos os que permitiram realizar o funeral na terra que é o berço da família Savimbi, neste derradeiro adeus, em particular ao Presidente da República [João Lourenço], pela sua sensibilidade humana, pela coragem política, pela decisão histórica de entregar os restos mortais do meu pai", sublinhou Durão Sakaíta.

Jonas Savimbi foi morto em combate a 22 de fevereiro de 2002, tendo siso sepultado no cemitério do Luena, no Moxico, mas sob a alçada do Governo angolano, cujo Presidente acedeu, em 2018, ao pedido do atual líder da UNITA, Isaías Samakuva, para se proceder à exumação do corpo, processo que culminou sexta-feira no Andulo, com a entrega formal dos restos mortais à respetiva família, para que hoje, em Lopitanga, se concretizasse o funeral.

Num discurso em que cada frase quer de Durão quer de Helena começava com a palavra "pai", e sempre na primeira pessoa, ambos destacaram o "político que se entregou à causa nobre de servir o país, antes e depois da independência", mas "sem nunca deixar de ser um progenitor "presente" quer "perto quer longe".

"Pai, foste rigoroso connosco, foste pai. Sempre atento à nossa educação, sempre atento à necessidade de valorizar o trabalho, o respeito e os valores. Ensinaste-nos a respeitar os mais velhos. Brincaste connosco, contavas-nos histórias. Foste pai de todos os homens que abraçaram a causa", sublinharam ambos na declaração familiar.

"Pai, foste um homem que amou profundamente Angola. Os que morrem acabam por viver sempre se a causa por que lutaram foi boa. Ficamos finalmente em paz", terminaram Durão e Helena.