O esquema passa por dar garantias de sucesso aos eventuais candidatos a um lugar na corporação a troco de somas monetárias através de perfis falsos de comandantes e de entidades afectas ao Ministério do Interior nas redes sociais, soube o Novo Jornal de fonte policial.

A informação do concurso público foi avançado na cidade do Cuito, província do Bié, pelo comissário-geral Paulo de Almeida num encontro de cortesia que manteve com o governador local, Pereira Alfredo, onde falou na "necessidade de se realizar um enquadramento massivo em 2021 de seis mil novos efectivos caso o País ultrapasse a actual má fase da economia e da pandemia da Covid-19".

Face a esta situação, "a porta para o esquema fraudulento de burla" abriu-se através das redes sociais, estando muitos jovens entre as vítimas, ávidos por conseguir um emprego.

Segundo a fonte da PN, as vítimas foram aliciadas através do chat do Facebook, normalmente, as mulheres são as mais aliciadas por supostos homens com perfis falsos e com fotografia de comandantes provinciais, garantindo-lhes emprego na Polícia Nacional.

"O objectivo é convencer a vítima a acreditar que tem um lugar garantido na polícia, mas, para o efeito, estes têm de conseguir o dinheiro em tempo recorde para não perder a vaga", disse, garantindo que as, até ao momento, 129 pessoas burladas em Luanda pagaram quantias variadas entre, os 300 a 500 mil Kwanzas, por uma vaga nas fileiras da PN.

"Os burladores atraem os proprietários de telemóveis a websites maliciosos através de mensagens de correio electrónico e páginas web falsas. O objectivo final desse acesso ilícito aos dados pessoais é a burla de elevadas quantias, quer através do acesso a contas bancárias online ou através de extorsão acedendo a um perfil numa rede social", assegurou.

Ao que o Novo Jornal apurou, até ao momento nenhum elemento envolvido neste esquema de burla foi detido pelas autoridades.

O comandante da centralidade do Kilamba, Goreth Fernando, é umaentre outras entidades afectas ao Ministério do Interior que viram os seus dados serem usados pelos meliantes nestes esquemas de fraude e burla..

"Há indivíduos que estão a criar perfis falsos no meu nome. Nos últimos tempos tenho recebido reclamações de pessoas que dizem que estão a manter contacto comigo nas redes sociais. Estão a receber promessas de enquadramento, de patenteamento de venda de terrenos, de casas, de viaturas e prémios... tudo no meu nome", explicou a oficial.

"As pessoas pensavam que estivessem a falar com a comandante Goreth quando, na verdade, trocaramm impressões com os burladores", disse, revelando que já recebeu pessoas que foram à esquadra em prantos porque foram alvos de burla.

"Após darem conta que depositaram valores na conta dos burladores, aí partilham informações. Quando lhes é dito que a comandante Goreth trabalha na centralidade do Kilamba, uns ligam para mim, outros vem até ao meu encontro para confirmar se não fui eu que recebi os valores", explicou.

Questionada pelo Novo Jornal sobre quantas pessoas foram burladas usando o seu nome após o anúncio do concurso público para ingresso na Polícia Nacional, a comandante Goreth Fernando respondeu que conhece pelo menos 10 pessoas nessa condição.

"Conheço mais de 10 pessoas que foram burladas durante estes dias. Algumas contactara-me, outras falaram com pessoas que me conhecem, e, estas pessoas confirmaram. Tratava-se de uma página falsa do Facebook com o meu nome", revelou, sublinhando que as pessoas deixaram-se enganar, pensando que mantinham contacto com a comandante Goreth.

"Aquela página é totalmente falsa, primeiro pelo número, depois pela pessoa que atende o telemóvel, pelas informações que constam, o conteúdo que passam, as debilidades que eles passam, as incongruências que eles apresentam por se passarem no meu nome acabam por errar de forma evidente", disse, acrescentando que "muitos destes indivíduos tem muitas debilidades na escrita, na fala, nos conteúdos e na informação institucional".

Já o director adjunto do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Geral da Polícia Nacional, superintendente-chefe Mateus Rodrigues, em declarações ao Novo Jornal, disse que não se anunciou nenhum concurso público e não se estabeleceu datas para o concurso público.

"O comandante-geral disse apenas que a polícia tem pretensão de admitir seis mil efectivos no ano 2021", afirmou, reafirmando que não foi lançado o nenhum concurso público, embora os burladores estejam a usar apenas essa declaração de intenções por parte do comandante-geral.

"Ninguém pode falar do concurso público. Durante a sua entrevista, o comandante-geral referiu a situação económica do País. Caso a situação económica do País, melhore, então será feito o concurso público", esclareceu., deixando uma advertência clara para que as pessoas estejam atentas a este tipo de crime.