Os funcionários decidiram concentrar-se em frente às instalações da fábrica depois da jornada de trabalho para protestar pelos baixos salários que recebem há vários anos.

Durante os protestos, os trabalhadores enfatizaram a necessidade de aumento salarial na ordem dos 100 por cento, face às necessidades diárias.

Os milhares de funcionários demarcaram-se da sua comissão sindical por esta não lhes dar garantias para a resolução dos conflitos com a entidade patronal, conforme testemunhou o NJOnline no local.

"O nosso sindicato não trabalha, nunca esteve do nosso lado, por isso decidimos protestar sem orientação da comissão sindical. Porque estamos a sofrer muito", disseram os manifestantes.

Domingos Sombe, funcionário, há cinco anos, da fábrica que produz botas e uniformes das Forças Armadas Angolanos (FAA), explicou que a razão da manifestação é sobretudo a falta de pagamento dos dois meses de salário em atraso e o baixo ordenado que a maioria recebe no final de cada mês.

"Eu ganho 18 mil kwanzas. É salário de miséria e nem para o táxi chega, atendendo à situação em que o País está. Com as coisas cada vez mais caras, não temos como viver com este baixo salário", disse.

"Nós não beneficiámos dos reajustamentos salariais que houve no País. E não sabemos até hoje a que ministério pertencemos, se é o da Defesa ou o da Casa de Segurança da Presidência da República, porque nos deixam confusos até hoje, e de forma propositada" denunciaram os milhares de trabalhadores.

O NJOnline apurou no local que os funcionários estão há mais de quatro anos sem receber recibos salariais e os últimos que têm, não fazem referência ao nome de qualquer instituição, situação que deixa inquietos os visados.

"Nós estamos com salários irregulares, desde Novembro do ano passado, e até hoje continuamos nesse vai e vem", disse Pedro Domingos, outro funcionário da empresa.

Os operários dizem que há 12 anos que não vêem aumento salarial no Complexo Fabril Textang, por razões até aqui nunca explicadas pela Casa de Segurança da Presidência da República.

Para além dos aumentos salariais, os funcionários também se queixam das péssimas condições de trabalho e da falta de assistência médica e medicamentosa.

"Nós trabalhamos há 12 anos em condições péssimas e não sabemos na verdade quem é nosso verdadeiro patrão. As nossas necessidades aumentaram, sofremos descontos de toda a ordem, mas nunca tivemos aumento de salário", relataram.

"A direcção prometeu fazer os reajustes salariais no passado mês de Abril, mas não passou de promessa, por isso estamos aqui a manifestar-nos no fim da nossa hora normal de trabalho, porque muito dos nossos colegas estão a ser ameaçados pela direcção da empresa", disse Domingas Paulina, funcionária há 10 anos.

"O Presidente da República, João Lourenço, quando esteve aqui, nas vestes de ministro da Defesa Nacional, disse que a nossa situação iria melhorar. E não sabemos se o senhor Presidente sabe do que se passa aqui na empresa de calçado e uniformes das Forças Armadas Angolanos, que ele conhece bem", declararam os funcionários, agastados com a situação.

Segundo os funcionários, a tabela salarial existente na empresa é muito baixa, pois os trabalhadores da limpeza ganham 14 mil kz, os auxiliares de produção entre 16 e 18 mil, os operadores de máquinas entre os 19 e os 21 mil kwanzas.

Sobre o assunto, o NJOnline contactou o director da empresa, Artur Luís Tombia, que não aceitou prestar declarações por alegada falta de autorização superior do Ministro da Defesa Nacional, Salviano de Jesus Sequeira.