"O Estado tem que planear um conjunto de acções que proporcionem uma mudança de paradigma em torno do abuso sexual, restabelecendo a dignidade humana com acções de nível social, educação, comunicação social e de todas as instituições para o apoio às vítimas", lê-se no comunicado final da conferência que reuniu mais de 400 pessoas em Luanda, no final do mês de Setembro, para debater a questão do abuso sexual em Angola.

Segundo a organização, é fundamental "repor a dignidade das vítimas, sobretudo mulheres e crianças, melhorando os sistemas de denúncia, de resposta, monitoria e prevenção do abuso sexual.

Perante o cenário apresentado pelos representantes estatais no evento, a organização considera determinante mudar o paradigma colocando "as instituições ao serviço da pessoa (os vários serviços forenses, de apoio médico, de apoio psicossocial, de protecção, de justiça, devem aproximar-se da vítima) e não o contrário.

E para que a dignidade humana seja restabelecida, a organização recomenda que se criem sistemas de suporte à vítima adequados a cada caso, que assegurem o respeito, a protecção e a confidencialidade, o que inclui a formação de técnicos e dos agentes da Polícia.

Numa vertente de prevenção, a organização sublinha a importância de trabalhar com os agressores, o atendimento psicossocial às famílias mais vulneráveis (treino parental), o desenvolvimento de trabalho de prevenção nas comunidades para fortalecer as relações familiares, a rede de protecção da criança (escola, família, comunidade, igreja), assim como a participação activa da comunicação social como elementos que devem fazer parte da mudança de comportamento.

Segundo dados apresentados em 2017 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e, em 2018, pelo Instituto Nacional da Criança (INAC), pelo menos 5% das mulheres entre os 15 e 49 anos já foram vítimas de abuso sexual e centenas de menores sofrem anualmente de algum abuso sexual.