A previsão é do Banco de Portugal (BdP) e aparece inscrita no boletim económico de Maio da instituição, no qual é analisada a exposição da economia portuguesa a Angola na última década.
"O abrandamento desta economia [angolana] teve um impacto negativo considerável sobre as exportações e a actividade em Portugal em 2015", lê-se no documento, admitindo que essa situação, "muito provavelmente, deverá estender-se a 2016".
O BdP lembra que Angola teve "um período de rápido crescimento após o fim da guerra civil, em 2002" e que, entre 2002 e 2014, o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) do país foi de cerca de 10%.
Este "forte crescimento da última década" esteve muito ligado à expansão da indústria de extracção de petróleo e, "apesar de alguns esforços de diversificação, a economia angolana mantém-se muito dependente do sector petrolífero", que em 2014 gerava 68% das receitas orçamentais e representava 97% das exportações de bens.
Quando, no segundo semestre de 2014, houve uma "redução acentuada dos preços internacionais de petróleo", que teve continuidade em 2015, isso traduziu-se numa "desaceleração da economia [angolana] e numa rápida passagem a uma situação de desequilíbrio das contas públicas e externas".
No ano passado, prossegue, a moeda angolana depreciou-se "em mais de 30% [face ao euro] no mercado oficial", a inflação subiu para "valores de dois dígitos", houve "uma acumulação de dívidas a fornecedores e uma deterioração de alguns indicadores de estabilidade financeira, como o crédito malparado".
Escreve ainda que essa exposição se materializa sobretudo através das trocas comerciais entre os dois países, designadamente as exportações de Portugal para Angola, que tiveram um "aumento muito significativo entre 2005 e 2014", mas que "diminuíram de forma marcada em 2015, verificando-se um agravamento da queda ao longo do ano".
Em 2015, as exportações nominais de bens para Angola caíram 34% e as exportações de serviços diminuíram 14%, "sendo a queda extensível quer ao turismo, quer aos outros serviços", uma tendência que "se reforçou nos primeiros dois meses de 2016".
Olhando para as remessas dos emigrantes portugueses no país, o BdP nota que estas "cresceram a um ritmo bastante intenso no período 2006-2013 (cerca de 40%, em média anual), representando 10% do total no final deste período", mas que, em 2014 e 2015, se reduziram em 19% e 12%, respectivamente.
Outro aspecto identificado pela instituição foram as ligações financeiras entre Portugal e Angola, que "são significativas" e que podem "amplificar os efeitos da crise económica angolana sobre a economia portuguesa".
Nesta matéria, o banco central português destaca os fluxos de investimento directo entre os dois países, "que também se intensificaram ao longo da última década" e que provavelmente "subavaliam as relações de investimento directo estrangeiro entre as duas economias, porque não consideram as operações realizadas através de entidades localizadas em terceiros países".
Além disso, o BdP refere a exposição do sector bancário português a entidades angolanas, nomeadamente os créditos e os depósitos.
Esta exposição é aumentada "se se considerarem as filiais de bancos portugueses a operar em Angola, bem como os créditos concedidos pelo sistema bancário português a empresas com fortes relações com o país, em relação aos quais se tem registado um expressivo aumento do grau de incumprimento".