Pela quarta vez, o Parlamento da Noruega interroga o seu ministro dos Petróleos e Energia, Tord Lien, sobre o destino da verba declarada pelo país como tendo sido paga, em 2012, para a obtenção de licenças de exploração de blocos petrolíferos em Angola.

Segundo publica o site informativo newsinenglish.no, que cita uma investigação do jornal Dagens Næringsliv (DN), o dinheiro deveria ter sido aplicado na construção de um centro de investigação e tecnologia, cujo funcionamento seria realizado sob os auspícios da angolana Sonangol.

Contudo, a imprensa norueguesa divulgou a informação de que a estrutura nunca começou sequer a ser construída. Pior: os inquéritos já realizados indicam que não há nenhum documento que confirme que o projecto alguma vez existiu.

Para além do "centro fantasma", "a Statoil (com 67% de capital estatal) declarou o pagamento de mais de 700 milhões de coroas norueguesas [cerca de 84,6 milhões de dólares] em várias "contribuições sociais" a Angola, montantes que também não estão documentados", escreve o newsinenglish.no.

As suspeitas de que o dinheiro foi utilizado "para pagamento de subornos", ou "para enriquecer a poderosa família que controla o poder político angolano são altas", reporta o site, reproduzindo as conclusões do Dagens Næringsliv.

Questionado sobre estas desconfianças, Tord Lien ainda não conseguiu esclarecer o dossier Angola.

"O ministro (que pertence ao conservador Partido do Progresso) alega que não é responsabilidade sua seguir os enormes fluxos de dinheiro que seguiram para Angola, aparentemente em troca de nada", declarou ao DN Jette Christensen, membro do comité parlamentar, em representação do Partido Trabalhista.

Statoil diz desconhecer pagamentos e ministro descarta responsabilidades

Segundo explica Christensen, os deputados querem saber não apenas como o dinheiro foi utilizado, mas também se o ministro deu instruções sobre o caso, tendo em conta que a própria Statoil admitiu desconhecer o paradeiro da verba, depois de os media terem divulgado os pagamentos suspeitos.

A imprensa norueguesa recorda que a posição distanciada do ministro surge depois de um aconselhamento jurídico: a firma de advogados BA-HR concluiu que a Statoil não está legalmente obrigada a fornecer os seus documentos ao governante. Por isso, Tord Lien mantém a argumentação de que não tem nenhuma informação para apresentar no Parlamento.

À margem das inquirições parlamentares, o presidente da Statoil, Oystein Loseth - que assumiu o cargo no Verão passado - veio defender os investimentos da empresa em Angola.

"A Statoil tem responsabilidades quando decide operar em países que podem ser descritos como vulneráveis à corrupção, e onde existe pobreza. Uma das coisas que fizemos foi lutar pela transparência da informação. E quando fomos para Angola, especificámos exactamente o que foi pago em bónus e medidas sociais", disse o responsável da empresa ao DN.

Na factura de encargos consta o pagamento, em 2015, de impostos no valor de 14 mil milhões de coroas norueguesas (cerca de 1,6 mil milhões de dólares) e de "bónus" e "medidas sociais" no montante de 112 milhões de coroas (aproximadamente 13,5 milhões de dólares).

"Isso é com as autoridades e a população angolana"

Criticado pela postura demasiado "descomprometida" em relação à realidade angolana, o presidente defende que não se pode envolver na política interna dos estados onde a Statoil realiza negócios.

Contudo, o gestor considera que os negócios da Noruega em Angola têm ajudado o país.

"Penso que cada gota conta. Não há dúvida de que Angola conseguiu grandes receitas por causa do petróleo. As companhias petrolíferas internacionais contribuíram para isso. Mas é difícil para mim comentar sobre como o dinheiro foi utilizado internamente e se foi gasto correctamente. Isso é com as autoridades e a população angolana. Só posso ter esperança de que contribui positivamente para o país".

Ainda em declarações ao DN, o presidente da Statoil defende que "se todos abandonarem Angola" por causa deste tipo de suspeitas, "isso não irá ajudar em nada o país".

Com operações na ordem dos 23 mil milhões de coroas norueguesas em África (cerca de 2,8 mil milhões de dólares), apenas no ano passado, a petrolífera Statoil cedeu recentemente a quota de 20% que detinha na sociedade responsável pela operação de produção de petróleo no bloco 4/05 do offshore angolano, desconhecendo-se os montantes envolvidos no negócio.