Há pelo menos duas semanas consecutivas que o Brent, em Londres, que serve de referência principal às ramas exportadas por Angola, está a perder valor, situando-se hoje, 21, perto das 15:00, hora de Luanda, nos 86,90 USD, uma perda de 0,73% face ao fecho de sexta-feira, enquanto no WTI, em Nova Iorque, a perda era de 0,72%, para os 79,50 USD.

Depois de longos meses acima dos 90 USD por barril, com apenas uma ligeira e curta quebra dessa barreira em meados de Setembro, nos últimos dias, reflectindo com destaque a crise económica global, o barril mostra estar agora mais frágil.

Essa fragilidade advém igualmente de receios de reflorescimento da Covid-19 na China ou a recente valorização do Dólar, que já está em alta face ao Euro há quase um ano, tendo chegado, logo após a invasão russa da Ucrânia, a 24 de Fevereiro, aos 139 dólares por barril, ficando no mês de Março a apenas sete USD do recorde de sempre alcançado em Junho de 2008, onde chegou aos 147 dólares.

Os analistas estão, todavia, a apontar como "combustível" para este trambolhão o sentimento de risco emanado da fragilidade das economias europeias, e mesmo da norte-americana, fruto do refluxo das sanções aplicadas à Rússia - só a União Europeia já vai em nove pacotes sancionatórios -, estando o tiro a sair pela culatra muito porque o Kremlin controla a segunda maior exportações de crude do mundo e é a primeira potência mundial na exportação de gás natural.

A fragilidade evidente das economias europeias, com a Alemanha, Reino Unido, Suécia e Itália à beira da recessão, levou a uma hipervalorização do dólar face ao euro, que, pela primeira vez em 20 anos chegou, nas últimas semanas, a valer menos que a moeda norte-americana, o que amortece o impacto nos mercados, porque as economias mundiais, num mercado onde o dólar ainda é a moeda franca neste negócio, apesar dessa realidade estar a ser alterada por força do eixo Moscovo/Pequim/Nova Deli/Riade, precisam de mais das suas moedas nacionais para comprar os dólares com que adquirem o petróleo.

O ressurgimento da Covid-19 na China é outro impulso para pressionar em baixa o valor do barril, sendo, e por isso, a China o maior importador do mundo da matéria-prima, porque os confinamentos conduzem a uma menor procura e uma menor procura pela indústria chinesa leva a uma redução das importações.

Para Angola, uma das economias que mais reage aos solavancos dos mercados petrolíferos, devido à sua crónica petrodependência, este jogo global tem sido benéfico, porque com o barril acima dos 90 USD, a economia nacional não só respira melhor como ganha fôlego para lidar com as dificuldades.

Embora a produção se mantenha há largos anos numa trajectória de declínio, Angola, ainda assim, conseguiu mais de 10 mil milhões USD no 3º trimestre deste ano, segundo informação disponibilizada pelo Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás.

Estes dados do Governo angolano mostram uma descida superior a 3,3% na exportação de energia em relação ao anterior trimestre, embota notando-se um aumento ligeiro face a igual período de 2021.

Angola tem vindo a sofrer forte impacto da crise que começou em 2014, com um subsequente desinvestimento na pesquisa e na manutenção da infra-estrutura produtiva nacional, estando a sua produção muito perto de 1 mbpd, muito longe do máximo histórico atingido em meados de 2008, quando chegou a valer por barril 147 dólares norte-americanos.

Este sobe e desce tanto no valor do barril como na oscilação da produção é fundamental para Angola, porque o sector petrolífero ainda representa 95% das suas exportações, mais de 60% das receitas do Estado e 35% do seu Produto Interno Bruto (PIB).