O primeiro-ministro da Índia tem estado, tanto no âmbito dos BRICS, que junta originalmente a China, a Índia, a Rússia, o Brasil e a África do Sul, com mais cerca de uma dezena de países recentemente, ao lado de Pequim e Moscovo neste embate global pela alteração da actual Ordem Mundial Baseada em Regras criadas pelos EUA e os seus aliados europeus e antigas potências coloniais.

E isso ficou agora claro nesta deslocação de Estado à Etiópia, país que, com o Egipto, se juntou à África do Sul na vertente africana dos BRICS, onde Modi defendeu que os países do Sul Global, claramente em desvantagem histórica face às potências industriais ocidentais, só têm a ganhar se unirem esforços para esbater essas diferenças.

"A solidariedade é força e a cooperação é poder" disse Narendra Modi durante esta visita a Adis Abeba, acrescentando no mesmo discurso que "hoje, as Nações do Sul Global, civilizações antigas, como a indiana e a etíope, estão juntas como amigos" em busca do desenvolvimento dos seus povos.

E recordou a vitória no século XIX contra a colonização italiana que "inspirou todo o mundo que estava em busca de dignidade e liberdade", viajando no tempo para os dias de hoje onde disse que "são tempos de conflitos e incerteza" constituindo um "lembrete para o povo do Sul Global que deve manter-se unido e firme pelo seu próprio bem".

Nesta visita ao segundo país mais populoso de África, logo a seguir à Nigéria, Narendra Modi defendeu que o Sul Global está "finalmente a escrever a sua própria História e a definir o seu destino".

Estas palavras de Modi são claramente sincronizadas com os discursos de todos os membros dos BRICS, nomeadamente russos e chineses, que têm, tal como a Índia, uma disputa crescente pela influência no continente africano ganhando espaço geoestratégico que tem sido historicamente das antigas potências coloniais.

"A nossa visão é a de um mundo onde o Sul Global se impõe, não contra outros mas a favor de todos, pelo desenvolvimento justo e harmonioso, com tecnologia acessível a todos e a soberania de cada qual é respeitada sem excepções", apontou.

E desafiou, a partir de Adis Abeba, com o seu homólogo Abiy Ahmed ao lado, todo os países do continente africano para para que "caminhem juntos como iguais como parceiros" porque esse é o caminho que permitirá "o sucesso partilhado" assente numa verdadeira parceria.

Estas palavras de Modi em Adis Abeba não podem ser desencaixadas do contexto global que hoje se vive, onde os BRICS procuram alargar a sua influência num confronto que esta organização que tem russos, chineses e indianos como potências liderantes, garante ser pelo bem comum e entre iguais, mantém com o Ocidente Alargado, com o objectivo de esbater as gigantescas diferenças nos níveis de desenvolvimento.

E faz parte de uma estratégia desenhada no seio desta organização que visa desmantelar a actual Ordem Mundial Baseada em Regras definidas pelos EUA a partir da Segunda Guerra Mundial, assente em pilares como o FMI, o Banco Mundial e a ONU, que tem sido claramente mais vantajosa para as potências industrializadas do Hemisfério Norte.

E o objectivo final, segundo defende Modi, e que é partilhado pelos lideres dos outros membros, como China, Rússia, Irão... é alterar a actual Ordem Mundial passando de uma liderança global dos países ocidentais para uma outra baseada na construção de parcerias "entre iguais" e sem poderes hegemónicos, visando o desenvolvimento justo e para todos.

E África (ver links em baixo) tem sido sem sombra de dúvida um dos campos onde se desenrola esta "batalha" global.