Afonso Dhlakama, que morreu vítima de doença, autointitulava-se "pai da democracia", passando quase toda a sua vida a fazer resistência armada contra a rival Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
Os acordos de paz de 1992 nunca foram totalmente aplicados, segundo a Renamo, que reclamava a inclusão dos seus militares num sistema unificado de forças, algo que foi sempre recusado.
Agora, após vários confrontos militares, Dhlakama celebrou já em 2018 com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, um acordo para a realização de eleições regionais, uma reivindicação antiga da Renamo, que conta com grandes apoios no centro do país, perto da sua base histórica da Gorongosa.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), nasceu a 01 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala. É filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde.
Dhlakama assumiu a liderança da Renamo aos 26 anos, sucedendo a André Matsangaíssa na condução de uma guerrilha que se assumiu como frente de resistência contra o sistema comunista instaurado em Moçambique pela Frelimo, após a independência, em 1975.
Escapou várias vezes, algumas de moto, seu veículo preferido, ao cerco das forças governamentais durante a guerra civil de 16 anos, até se impor como interlocutor do partido no poder nas negociações que levaram à assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, em 1992.
Após o fim da guerra civil, Afonso Dhlakama candidatou-se pela Renamo a cinco eleições presidenciais, que decorreram em simultâneo com as legislativas, tendo ele e o seu partido perdido em todas: 1994, 1999, 2004, 2009 e 2014.
Não reconheceu a derrota em nenhuma delas e ameaçou voltar à luta armada.
Acentuando muitas vezes o seu discurso com ameaças de retorno à guerra, regressou em 2012 às matas da Gorongosa, distrito que acolheu as principais bases da Renamo, dirigindo os confrontos entre o braço armado do partido e as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas.
Na sequência dos confrontos, Afonso Dhlakama assinou o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares com Armando Guebuza, na altura Presidente da República, que deu lugar às quintas eleições gerais de 2014.
Depois de perder as presidenciais de 2015, frente a Filipe Nyusi, da Frelimo, organizou comícios em que ameaçava governar nas províncias do centro e norte do país onde obteve a maioria de votos.
Nesse ano, a sua comitiva sofreu dois ataques armados nunca assumidos, tendo saído ileso e desaparecido nas matas do centro do país, de onde reapareceu na cidade da Beira, capital da província de Sofala.
Após uma invasão da sua residência na Beira, Afonso Dhlakama desapareceu para se refugiar novamente na Serra de Gorongosa, seguindo-se mais um ciclo de violência militar com as Forças de Defesa e Segurança, até à declaração de tréguas em Dezembro de 2017, que perduram até hoje.
O líder da Renamo chegou a entendimento com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para a submissão à Assembleia da República de uma proposta de revisão pontual da Constituição da República visando o aprofundamento da descentralização.
Afonso Dhlakama apresentava a descentralização como fundamental para uma paz duradoura em Moçambique.
No final das conferências de imprensa, Afonso Dhlakama cumprimentava, sorridente, cada jornalista, tratando por "amigo", mesmo que nunca o tivesse visto antes, deixando uma imagem meiga para um político que, várias vezes, se revelou provocatório nas suas declarações e posições públicas.