Esta iniciativa do líder israelita, que visa claramente instigar os Estados Unidos da América de Donald Trump a anular o acordo assinado com o Irão em 2015 pelo ex-Presidente Barack Obama, e um conjunto alargado de potências, que levou ao cancelamento desse mesmo programa a troco do levantamento de sanções, foi, numa primeira fase, recebido com entusiasmo pela Casa Branca.

No entanto, pouco depois, como relata a imprensa norte-americana, a Administração de Donald Trump deu o dito por não dito e recuou na confirmação de que o Irão mantinha um programa nuclear "secreto e robusto".

Primeiro, os EUA tornaram público que os documentos divulgados pelo primeiro-ministro israelita estavam em conformidade com aquilo que eram as informações recolhidas pelos serviços secretos norte-americanos, no sentido de que o Irão mantém, escondido dos signatários do acordo de 2015, e da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), um sistema eficaz e que visa produzir armas nucleares.

Mas, quando Benjamin Netanyahu parecia estar a ganhar a aposta, no sentido de levar os EUA a desmantelar o seu compromisso sobre o Irão, a mesma Administração Trump, ainda as rotativas não tinham arrefecido, veio colocar água na fervura, alterando a versão de que "tem" por uma menos bélica, que é: "O Irão tinha (até 2015, ano de assinatura do acordo) um programa nuclear robusto e secreto", justificando com uma gralha na formulação da primeira versão.

Recorde-se que Israel e o Irão têm, ao longo dos últimos anos, protagonizado um dos mais perigosos jogos de pré-guerra do Médio Oriente, com ameaças mútuas e contínuas, muito mais perigoso que aquele que é protagonizado com a Arábia Saudita, o inimigo cultural-religioso mais antigo e convicto.

Igualmente importante é que, não sendo menos relevante para a iniciativa de ataque do primeiro-ministro israelita, o Presidente norte-americano anunciou, há algumas semanas, com estrondo, que a 12 de Maio, dentro de 10 dias, "ou antes", vai anunciar a sua decisão sobre o acordo nuclear com o Irão, acusando o seu antecessor, Barack Obama, de ter liderado as negociações para "um mau acordo".

Quando o mundo aguarda com expectativa o desfecho deste episódio na Casa Branca, que provavelmente vai conduzir a uma forte tensão entre os EUA e os restantes signatários do acordo, principalmente a União Europeia, China e Rússia, bem como com a AIEA, que já garantiu não haver quaisquer indícios de que o Irão mantenha o programa nuclear, em Israel primeiro-ministro Benjamin Netanyahu mostra, cada vez com ais intensidade, a sua disponibilidade para integrar uma coligação liderada pelos EUA para atacar o Irão, até porque já noutras ocasiões prometeu que ia lançar os seus caças contra as infra-estruturas nucleares geridas por Teerão.

Todo este novo foco de tensão, que está a impulsionar, entre outras consequências, o preço do petróleo em alta, teve o seu início na segunda-feira, quando Benjamin Netanyahu disse ter "provas cabais" do programa secreto iraniano.

Apesar de a Casa Branca ter recuado, isso não quer dizer que as coisas estejam resolvidas, porque o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Mike Pompeo, está convencido de que o que disse o líder israelita "é autêntico".

Para já, ao que tudo indica, a decisão de Trump, prevista para 12 de Maio, está a ser alvo de forças distintas. Por um lado, Mike Pompeo, um defensor de ataques militares ao Irão, e do outro os lideres dos países que assinaram com Obama o acordo com o Irão, tendo, nos últimos dias, o Presidente norte-americano recebido as visitas do Presidente francês, Emmanuel Macron, e da Chanceler alemã, Angela Merkel, onde este foi um dos principais assuntos em cima da mesa, a par das ameaças de taxar produtos europeus importados pelos EUA.

Para o Irão, segundo a imprensa oficial do país, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não merece credibilidade nas acusações que faz, porque têm sido famosas as suas aparições "ridículas" sobre esta matéria.

Com ou sem conteúdo, neste momento é Donald Trump que tem nas mãos mais uma séria crise no Médio Oriente ou esvaziar este foco de tensão que Israel não se tem cansado de promover.