Queremos espalhar Universidades por todo o País, quando o maior problema que temos é a qualidade do ensino, e a acessibilidade ao ensino de base, e é gritante a necessidade de se investir nos recursos humanos e na manutenção do que já existe no sistema de educação.

Reabilitamos os caminhos de ferro, e gastamos recursos em edifícios excusos, em vez de se apostar no equipamento de segurança que permita prevenir os acidentes que, infelizmente, acontecem com inusitada frequência. Fazemos hospitais com equipamentos "de última geração", e continuamos a ter taxas de mortalidade elevadas em doenças que poderiam ser evitadas com saneamento básico e uma rede extensiva de cuidados primários de saúde. Projectamos auto-estradas (que não concluímos) e não mantemos uma rede de estradas, que se deveria estender a todos os cantos do país com as estradas terciárias, essenciais para o desenvolvimento social e económico equilibrado de Angola. Anunciamos com pompa uma equipa de equitação, mas esquecemos o atletismo.

Gostamos de obras grandiosas, luxuosas, dispendiosas, ignorando frequentemente o essencial, e exaurindo o tesouro nacional. O resultado é o que sabemos, e é plasmado nos indicadores de pobreza multidimensional que são divulgados, e nos orçamentos gerais do Estado que aprovamos, e onde o volume de compromissos com a dívida pública consome uma fatia muito significativa dos recursos disponíveis.

A inauguração de um "Salão Protocolar" com uma sala de banquetes para 1200 convidados (que não sabemos quanto custou), a divulgação dos valores gastos num Centro de Convenções na Chicala (que aparentemente deveria ter sido concluído para albergar os eventos de alto coturno que têm vindo a ser realizados, em particular os que estão a ser feitos sob a égide da nossa Presidência da União Africana, e que, não concluído, já teria engolido cerca de 600 milhões de USD...), e o anúncio da construção de um aeroporto "internacional" em Mavinga, pela módica quantia de 200 milhões de USD (que, como habitualmente, tenderão a crescer, pois estes projectos são feitos com uma massa com muita levedura...), só exacerbaram a falta de medida que parece existir quando se realizam investimentos públicos no País.

Perguntamo-nos se há, como sugerem as regras mais elementares, um estudo de viabilidade técnico-económica - ou a análise cuidada dos benefícios sociais que se pretende obter - antes de se aprovar qualquer projecto, pois, o que a prática nos parece mostrar é que o que preside à sua concretização são outros desígnios, onde a pompa e a circunstância, companheiros da nossa irracional vaidade, desempenham papel crucial. O Salão Protocolar, dificilmente pode ser considerada uma obra prioritária e justificável em tempos de crise económica, o Centro de Convenções, com a oferta que tem crescido em Luanda para esse tipo de eventos, dificilmente se enquadrará no tipo de projecto em que se justifica o investimento público, e o aeroporto "internacional" de Mavinga não tem em consideração as experiências com infra-estruturas similares no Cuito-Cuanavale (onde se augurava a realização de grandes eventos e até casas protocolares tem - mas não se concluiu o bairro para os antigos combatentes...), no Luau ou em Ndalatando, e mesmo no Uíge, onde nunca se conseguiu sequer manter uma carreira doméstica regular da nossa transportadora aérea nacional.

A desmedida exaure recursos sem o correspondente benefício. É má política. É desrespeito.