O jornal nova-iorquino avançou na quarta-feira, 19, que está concluído um plano com 28 pontos, elaborado em encontros secretos entre equipas criadas por Donald Trump e Vladimir Putin longe dos olhares dos media, dos ucranianos e dos aliados europeus.

Foi com estrondo que este plano chegou a Kiev e às capitais europeias, claramente ignorados neste processo,, onde, pelo contrário, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky estava e está num frenesim incomum a girar por vários países europeus em busca de apoio e dinheiro.

Nesse périplo assimou acordos de segurança em Espanha, onde o Governo de Madrid lhe prometeu mais mil milhões USD em armas, França, com a assinatura de um acordo de intenção de comprar 100 caças Rafale F4, pela Grécia, Turquia...

De pouco valerá este périplo de Zelensky porque o seu destino, como avança o New York Times, está traçado no acordo alcançado por Steve Witkoff, o enviado especial de Trump para a guerra na Ucrânia, e Kirill Dmitriev, a escolha de Putin para esta negociação.

Acordo que, em suma, obriga Kiev a ceder territórios à Rússia, reduz fortemente o Exército ucraniano, afasta Kiev da NATO para sempre e fecha as fronteiras do país à presença militar ocidental...

O que, no global, vai de encontro às condições russas de sempre para acabar com o conflito que resultou da invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, e que esteve em banho-maria desde 2014, com epicentro no Donbass, após o golpe de Estado de 2014, organizado e financiado pelos EUA para afastar o Presidente pró-russo Viktor Yanukovich.

Neste acordo destaca-se a soberania integral das quatro regiões anexadas em 2022 - Lugansk e Donetsk (Donbass), Kherson e Zaporizhia e Crimeia, em 2014 -, a neutralidade absoluta de Kiev e o respeito pela língua, religião e cultura russas no que restar da Ucrânia pós-conflito.

E são vários os sinais de que esta notícia do New York Times corresponde à realidade no terreno e nos bastidores, sendo que das várias já conhecidas, duas destacam-se, que é o caso da denúncia do escândalo de corrupção em Kiev (ver links em baixo), pelo NABU, um organismo anti-corrupção criado e controlado pelos EUA, que fragiliza fortemente Zelensky e o deixa â mercê de Donald Trump.

O Presidente ucraniano parecia saber disso mesmo quando há dois meses tentou desmantelar o NABU, que é responsável pelas investigações, e o SAPU, que foi igualmente criado por Washington como forma de controlo para os milhões de milhões entregues a Kiev, em dinheiro e em armas, e tem por missão acusar os suspeitos de corrupção, sendo, na altura, obrigado a recuar pelos norte-americanos e europeus.

O outro sinal que aponta sem rodeios para a situação de extrema fragilidade de Volodymyr Zelensky e do seu regime é o anúncio, após a notícia do jornal norte-americano, da demissão de Keith Kellogg, que se tem destacado por ser o mais intransigente defensor dos interesses de Kiev na Casa Branca, assumindo-se como um aliado indefectível do Presidente ucraniano, embora calendarizada "apenas" para Janeiro.

O plano de Steve Witkoff e Kirill Dmitriev, que terá sido terminado numa longa reunião, que envolveu militares dos dois países, na Califórnia, tem 28 pontos e, segundo The Guardian, foi "desenhado em silêncio", impõe a Kiev a entrega de territórios e a redução substancial das suas forças armadas.

Além disso, limita o tipo de armas que Kiev pode possuir, num sentido em que a Rússia fica com controlo de grande parte da soberania política e militar ucraniana", estando, nota ainda o jornal britânico, a ser visto como uma "rendição ucraniana" e o triunfo total do Kremlin.

Este desenvolvimento abrupto do conflito na Ucrânia pode resultar de facto no seu fim, embora contrariando em absoluto o que Zelensky e os seus aliados europeus têm dito sobre as condições mínimas para aceitar o fim das hostilidades.

Porém, não foi ainda confirmado pela Kremlin ou a Casa Branca, embora a leitura dos acontecimentos que sucederam à sua divulgação pelos media, permita dar-lhe credibilidade.

E, ainda como acrescento, aponta no sentido que os russos, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, têm vindo a sublinhar que é estar conforme o que Donald Trump e Vladimir Putin acordaram em Agosto, no encontro no Alasca, tendo isso mesmo sido mantido secreto até agora.

Segundo o site da russa RT, o plano Witkoff-Dmitriev foi enviado pelos EUA à Ucrânia esta semana e o norte-americano terá sido claro ao dizer a Zelensky que não lhe resta outra alternativa senão aceitá-lo.

Um dos outros sinais que evidenciam a veracidade da notícia do NYT é que, de acordo com vários media, o Presidente Volodymyr Zelensky chegou nas últimas horas a Istambul, para um encontro com o seu homólogo turco, Reccep Erdogan, que, ao que tudo indica, alinhado com Trump e Putin, também pressionou o ucraniano a aceitar a proposta.

Há também notícias de que militares norte-americanos e ucranianos estiveram reunidos naquela cidade turca não para negociar o que quer que seja mas para coordenar a logística exigida pelo fim dos combates e a retirada das forças ucranianas.

O sinal mais evidente de que algo de verdadeiramente fundamental está a acontecer é que o enviado especial de Putin para esta negociação, Kirill Dmitriev, citado pela RT, disse que o entendimento de Moscovo é que "a Rússia está, finalmente, a ser escutada", embora o porta-voz oficial do Kremlin, Dmitri Peskov, tenha acrescentado já esta quinta-feora, 20, que Moscovo continua disponível para negociar com Kiev desde que essa vontade seja demonstrada.

E, no mesmo sentido, uma fonte da Casa Branca não identificada, citada pelo Politico, afiançou a veracidade do documento ao admitir que as partes, referindo-se a Kiev, podem vir a anunciar um acordo muito em breve, provavelmente nas próximas 72 horas.

Os aliados europeus de Zelensky estão frontalmente contra esta saída encontrada por russos e norte-americanos, que, recorde-se, só é exequível porque a dimensão dos gastos com a guerra em Kiev é de tal monta, em material e dinheiro, que nem a Ucrânia nem os seus aliados europeus possuem meios para sustentar o conflito.

Isso, especialmente num momento em que a Rússia está claramente a ganhar na frente de combate e as forças ucranianas estão na iminência de colapsar, como já é admitido mesmo nos media ocidentais pró-ucranianos.

Mas, para, de novo, tentar obstruir esta solução, a União Europeia, onde as suas lideranças, tanto no conselho europeu, pelo português António Costa, como na comissão europeia, liderada pela alemã Ursula Leyen, anunciou um novo acordo para permitir que forças militares do bloco possam atravessar as fronteiras comuns sem constrangimentos burocráticos.

A esse acordo deram o nome de "Schengen Militar", porque, como vários lideres militares, especialmente alemães e franceses, têm dito repetidamente, uma guerra aberta entre Rússia e a Europa Ocidental está iminente e deve ocorrer mais tardar até 2028.

Sobre estas proclamações incandescentes dos europeus, em Moscovo, Vladimir Putin tem reafirmado que a Rússia não tem nem qualquer interesse em atacar nenhum dos países da NATO e que essa ideia só serve para justificar os gastos nas indústrias de defesa.

Alias, um dos argumentos mais simples para tirar chão a este frenesim belicista na Europa Ocidental tem sido aduzido pelo analista militar major-general Agostinho Costa, que recorda que se os russos estão há quatro anos para conquistar 20% do território ucraniano.

Como poderiam considerar sequer uma guerra aberta com a NATO?, questionada o analista militar.