Aoua Keita, do Mali, sindicalista, política e enfermeira-parteira, figura principal do processo de criação da OPM, e Jeanne-Martin Cissé, da Guiné Conakry, professora, activista política e, mais tarde, diplomata.
A OPM, primeiro CMA (Conferência das Mulheres Africanas), nasce um ano antes da Organização de Unidade Africana e longe do conflito entre os grupos de Casablanca e de Monróvia, respectivamente pró e anti-integração, que atrasou a criação da OUA.
Nasce com apoio decisivo do grupo de Casablanca, nomeadamente de Kwame Nkrumah do Ghana, Sekou Toure da Guiné Conakry, Madibo Keita do Mali e Julius Nyerere do Tanganika, Tanzânia.
No final da conferência de Dar-Es-Salam, constitutiva da OPM, apadrinhada por Julius Nyerere, Aoua Keita foi, naturalmente, eleita presidente-fundadora da organização e viu a sede da organização ser fixada em Bamako, capital do seu País, onde permaneceu até 1968.
A panafricanista Aoua Keita, destacada militante da luta pela independência do então Sudão Francês (Mali) e que sempre se exprimiu em nome das africanas e dos africanos pela justiça e pela liberdade foi a primeira mulher deputada das antigas colónias francesas da África ocidental.
Nascida em 1912, em Bamako, no Mali, Keita desencadeia o processo que conduziu a criação da OPM na segunda metade da década de 50, do Século XX, numa altura em que os ideais panafricanistas dominavam a agenda africana.
Keita faz parte dos revolucionários panafricanistas que lutaram e conquistaram a Independência do Mali. Sindicalista, fundadora, com o marido, do partido União Sudanesa - Reunião Democrática Africana (US-RDA), em 1946, Aoua Keita enquadra o combate pela emancipação da Mulher na luta panafricanista pela Independência.
Isto tem reflexos no documento fundacional da OPM. É assim que nos primeiros estatutos da Organização aparece inscrito que as fundadoras decidiram criar uma organização internacional africana que permitisse às mulheres actuarem em conjunto para acelerar o movimento pela sua emancipação e apoiar a grande corrente de libertação política e económica do continente.
Dizia também que a organização devia trabalhar para promover a unidade dos estados africanos e estabelecer laços com as mulheres de todo o mundo com vista ao progresso, justiça e paz no mundo.
Aoua Keita fez parte da pequena minoria de mulheres negras que teve acesso à escola, durante o período da colonização francesa.
Formou-se como enfermeira parteira na escola de medicina de Dakar, no Senegal, em 1931, aos 19 anos. Como parteira, ganha consciência das diferentes formas de formas de discriminação que atingem as mulheres e a necessidade de unidade na luta contra esse flagelo e pela emancipação da mulher.
Aproveita os laços que, por razões profissionais, estabelece com as mulheres, para iniciar a sua acção político-sindical. Aoua Keita é reconhecida em documentos da União Africana (UA), da UNESCO e de inúmeras organizações internacionais, como uma das mais intrépidas defensoras dos direitos das mulheres africanas.
Quando o fascista italiano Mussolini invade a Etiópia em 1935, a jovem Aoua Keita e o seu marido, o médico Daouda Diawara, lideram os protestos contra a agressão italiana, afirmando o seu posicionamento anti-colonialista e anti-imperialista.
Atendendo que para si, o combate contra o colonialismo e suas injustiças era indissociável da luta pelos direitos as mulheres, Aoua Keita, cria em 1956 o sindicato das mulheres trabalhadoras do Sudão e em 1958 a União das Mulheres do Sudão (UFS).
No ano seguinte, sempre perspectivando a unidade e integração africanas, torna-se na única mulher deputada da efémera federação do Mali, agrupando o Sudão francês e o Senegal, e funda a União das Mulheres Oeste Africanas, (UFOA), com mulheres do Mali, Senegal, Guiné Conakry e Benin. A UFOA é considerada o embrião da fundação da OPM.
No seu lançamento, a UFOA condena o abandono pelo homem do domicílio conjugal, a poligamia, o casamento prematuro, repudia práticas consideradas nefastas, exige a instituição do casamento civil e o consentimento da mulher, entre muitas medidas tidas como revolucionárias à época.
No ano da fundação da OPM, em Bamako, cidade de grande efervescência panafricanista, Aoua Keita é a anfitriã da primeira conferência em solo africano da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), tornando-se numa das vice-presidente da organização.
Com o derrube do Presidente Madibo Keita, em 1968, através de um golpe de Estado, a presidente-fundadora da OPM é perseguida pelos golpistas e exila-se no Congo Brazzaville.
Passa a viver entre o País de Marien Ngouabi e a França onde publica, pelas edições Présence Africaine, a sua autobiografia "Mulheres Africanas - a vida de Aoua Keita contada pela própria". Regressa ao Mali em 1980, poucos meses antes de morrer.
A Conferência de fundação da OPM, elegeu para sua secretária-geral, o braço direito de Aoua Keita em todo o processo, a guineense Jeanne-Martin Cissé.
Muito jovem, Jeanne-Martin Cissé juntou-se a Sekou Touré no combate pela Independência da Guiné-Conakry, foi depois secretária-geral da União Revolucionaria das Mulheres da Guiné Conakry e, mais tarde, como diplomata presidente do Conselho de Segurança das Nações, depois de deixar a direcção da OPM.
Jeanne-Martin Cissé foi representante da Guiné Conakry, nas Nações Unidas, onde em 1972 se tornou na primeira mulher africana a assumir o cargo de presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Foi delegada à Comissão das Nações Unidas para a Condição da Mulher na década de 60 e em 1974, presidente do Comité Especial da Paz contra o Apartheid.
Fez também parte do Comité Internacional de Solidariedade com as Crianças e Mulheres da África Austral, depois de ocupar o cargo de ministra dos Assuntos Sociais do Governo de Sekou Touré.
A diplomata panafricanista da Guiné Conakry foi decisiva no agendamento da sessão no Conselho de Segurança da ONU sobre a situação das então colónias portuguesas em que Amílcar Cabral foi o porta-voz dos movimentos de libertação africanos, em Fevereiro de 1972.
Depois dessa reunião, em Addis-Abeba, Cabral afirmou que "pela primeira vez, sob a presidência de uma mulher, a nossa irmã e camarada guineense Jeanne-Martin Cissé, (o CS da ONU) adoptou por unanimidade uma resolução que condena o colonialismo português e exige do governo de Portugal que cesse a guerra colonial em África e retire as suas tropas de ocupação e entre em negociações com as forças patrióticas".
Ligada à luta comum travada pelos guineenses e cabo-verdianos, nas matas da então Guiné-Bissau, Jeanne Cissé manteve laços de amizade e de solidariedade próximos com dirigentes do PAIGC, nomeadamente com Amílcar Cabral.
Pelo reconhecimento do seu contributo à causa da independência do País, as autoridades cabo-verdianas atribuíram em 2006 à Jeanne-Martin Cissé a medalha de primeiro grau da Ordem Amílcar Cabral.
A propósito dessa condecoração, a diplomata panafricanista, falecida em 2017, disse à VOA: "Quando o Presidente Pedro Pires me chamou para me anunciar a sua decisão, fiquei tão impressionada, que a primeira coisa que fiz foi chorar de emoção... fiquei agradecida e muito tocada por esse gesto."
Acrescentou que o gesto "representa o reconhecimento, não apenas do meu trabalho, mas o esforço e a dedicação de todo o povo da Guiné Conakry, e em particular do Presidente Sekou Touré que não se cansava de nos lembrar que de nada valeria a libertação da Guine Conakry se continuassem a existir povos sob a dominação colonial".
A O OPM foi fundada por mulheres de 14 países do continente e de 10 movimentos de Libertação entre as quais Winnie Mandela e Adelaide Tambo, ambas do ANC, mulheres da OMA (MPLA), do PAIGC, FRELIMO, SWAPO, ZANU, ZAPU, FNL da Argélia, UNIP, entre outros.
Congo-Brazzaville, Costa do Marfim, Etiópia, Gabão, Ghana, Guiné Conakry, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Tanzânia, Togo e Tunísia são os países fundadores da OPM que hoje, à semelhança da UA, integra todos os estados do continente africano.