Donald Trump tem a estratégia de transformar aliados em vassalos por via de uma diplomacia autoritária. Ele não busca lealdade, mas vassalagem. Esta cimeira da NATO só veio confirmar uma realidade que muitos teimavam em não reconhecer: a submissão da Europa à política, aos interesses e caprichos dos Estados Unidos da América. Os líderes europeus têm medo das suas reacções e preferem bajulá-lo para não o confrontarem, humilham-se para obterem o direito de serem vassalos. Mark Rutte, o secretário-geral da NATO, colocou-se no infeliz papel de vassalo-mor no alinhamento para o beija-mão-geral. Só Pedro Sánchez, o primeiro-ministro de Espanha, lhe estragou o desfile do beija-mão. Só ele ousou desafiar Trump e Espanha manteve a sua posição, dizendo que não iria além de 2%, sendo o único país que não vergou a espinha ao novo dono do mundo. A Europa está hoje a pagar caro por se ter descuidado, durante décadas, na sua contribuição para a capacidade militar da NATO, que, verdade seja dita, foi suportada pelos EUA. Trump diz da Europa o que nunca se lhe ouviu dizer da Rússia e ninguém reage. Ele quer uma Europa secundarizada e sem qualquer intervenção no Médio Oriente e no Pacífico. Estas cimeiras da NATO são um palco para a sua afirmação internacional, para impor a sua autoridade, acima de tudo, para lhe prestarem vassalagem. O "El País" foi assertivo e objectivo com este título original: "Trump impone al mundo la diplomacia del vasallaje".
A morte da adolescente angolana Maria Luemba, em Portugal, pode ser também um exemplo numa outra dimensão de uma diplomacia ou diplomatas que gostam de estar numa posição subserviência perante o antigo colonizador. Um Estado que muitas vezes se demite de uma das suas principais funções, a da defesa e protecção dos seus cidadãos, porque não querer confrontar, não quer questionar, nem quer ficar mal com Portugal. Não há um posicionamento público ao mais alto nível , mesmo a actuação das estruturas consulares resulta de alguma pressão social e mediática, fazendo com actuem em modo de baixa visibilidade e comunicando apenas com os órgãos de comunicação social oficiais. Sobre este caso, um dos poucos, senão mesmo o único governante que se pronunciou publicamente, foi Manuel Homem, ministro do Interior, que enviou uma mensagem de consolo à família enlutada. Estranho silêncio.
É que muitas vezes lemos mensagens de condolências do PR para homólogos quando há um infortúnio nos seus países e somos confrontados com esses silêncios quando se trata dos nossos cidadãos. Em Janeiro de 2019, vivemos a mesma situação no caso Jamaica (Seixal), onde uma família angolana foi violentada pela polícia portuguesa, tendo sido o próprio Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, a ir acalentar a família de angolanos. Nesse caso, também se actuou ao nível de um vice-cônsul e, na altura, foi emitida um comunicado oficial como que a dizer aos nossos concidadãos para praticamente se portarem bem e não chatearem as autoridades portuguesas. Diferente foi a postura do próprio Presidente João Lourenço no caso Manuel Vicente, antigo vice-presidente de Angola, que esteve bem na defesa da nossa soberania, não permitindo que a arrogância e a petulância de certos grupos que ainda mantêm uma visão paternalista e neocolonial de Angola, exigissem que fosse enviado para Portugal para ser julgado como se o inverso fosse por eles aceite. Só que a protecção que se faz aos ditos grandes deve ser feita também aos pequenos. Angola não pode ter uma diplomacia que nuns casos sabe tomar posição e agir de forma enérgica, mas noutros casos parece prestar autêntica vassalagem.