Os últimos dois meses do ano passado e os primeiros deste ficaram negativamente marcados por enormes quedas de água, que encheram os leitos dos rios e lagoas, tendo estes transbordado e a água destruído à sua passagem casas e culturas agrícolas, e deixaram ao relento milhares de pessoas.
A subida dos níveis das águas dos rios, que atingiram o seu pico, forçou a abertura das comportas das barragens, sob pena de uma ruptura desses mecanismos de retenção de águas.
Por quase todo o País abundam as queixas e críticas sobre a má qualidade ou quase inexistentes serviços de Protecção Civil, multiplicam-se os relatos de pessoas que dizem ter sido abandonadas à sua sorte.

A maior parte das críticas tem a sua razão de ser, tendo em conta que a subida dos níveis das águas dos rios foi de forma gradual e não brusca, pelo que se sabia, à partida, que as margens dos rios iriam transbordar, daí que o SNBPC deveria ter agido de forma proactiva, ou seja, criado as condições mínimas para minimizar o sofrimento alheio, ao invés de aconselhar apenas os camponeses a procurarem os pontos mais altos para se livrarem das inundações.
Supunha-se que fossem criadas as condições para realojar os sinistrados em espaços onde seriam montadas tendas, cozinhas comunitárias, hospitais de campanha e prestados os serviços básicos de sobrevivência humana, mais concretamente os de distribuição água potável, alimentos, assim como a construção de latrinas.

Em meio ao coro de choros e lamentações, algumas vozes têm questionado sobre o destino dado às verbas alocadas anualmente pelo OGE ao SPCB, que seriam supostamente destinadas a acudir as situações de calamidades ou desastres naturais.

Mesmo sabendo-se das limitações financeiras, originadas pela actual conjuntura económico-financeira do País, esperava-se que o SNBPC fizesse mais e melhor em prol das vítimas. Mas, o que se tem verificado no terreno é uma péssima qualidade do serviço prestado por esta instituição, é como se a mesma não existisse...

A dor alheia não tocou, pelos vistos, a sensibilidade dos deputados de todas as bancadas parlamentares, porque se assim fosse já deveriam ter " encostado" o Executivo para prestar esclarecimentos sobre o aparente abandono em que se encontram os sinistrados das cheias.

Durante os períodos de chuva, já me questionei, em distintas ocasiões, sobre a actuação dos nossos Bombeiros e do serviço da Protecção Civil na prestação de socorro às vítimas das enxurradas.
Confesso que não tenho memória de ter visto, durante ou após as fortes chuvas, as viaturas dos Bombeiros a movimentarem-se de um lado para o outro em socorro às vítimas ou a procederem à sucção das águas pluviais em áreas residenciais ou comerciais, ou a socorrerem as viaturas atoladas na lama, ou ainda encalhadas nas crateras abertas pelas águas pluviais.

Já me questionei também se Angola poderá, a médio ou longo prazo, alcançar, por exemplo, os níveis de intervenção e eficácia dos bombeiros da Ucrânia que, não obstante aquele país estar a mergulhado num clima de guerra, os também conhecidos " soldados da paz" têm funcionado e respondido à demanda, sobretudo no combate aos incêndios provocados pelos bombardeamentos aéreos da Rússia...
Infelizmente, aqui, quando chove a rodos, os serviços de Protecção Civil e Bombeiros desaparecem, viram as costas às chuvadas, fecham-se a sete chaves, tal como qualquer um de nós que procura abrigar-se das intempéries.

Depois das fortes chuvas que há uns anos causaram várias mortes, desaparecidos, desalojados e destruições no município de Cacuaco supunha-se que o SNBPC ganhasse alguma experiência e assumisse o seu verdadeiro papel, que consiste nas acções de socorro aos sinistrados e no apoio às vítimas das calamidades.

Esperava-se que este órgão, adstrito ao Ministério do Interior, coordenasse todas as acções de apoio aos sinistrados, recebesse as ajudas das pessoas singulares e colectivas e as distribuísse directamente às vítimas, sem a interferência de terceiros.

À semelhança do que acontece noutras paragens, este órgão não deveria permitir que os partidos políticos fossem levar directamente as ajudas aos sinistrados como, aliás, ocorreu há dias quando uma delegação do MPLA, chefiada pela vice-presidente desse partido, foi ao Bengo distribuir ajudas de bens aos sinistrados das cheias do rio Dande.

Não é primeira vez que isso acontece, havendo mesmo disputas entre os partidos políticos em fazerem chegar as suas ajudas às vítimas dos desastres naturais.
Por mais que os partidos apregoem que as suas ajudas são " desinteressadas", as mesmas visam colher sempre dividendos políticos junto das pessoas social e espiritualmente fragilizadas, daí a necessidade da despartidarização dessas ajudas, supostamente humanitárias.

Noutras paragens, as operações de socorro às vítimas das sinistralidades não são apenas realizadas durante os períodos críticos, mas também em tempos de «paz», por via de simulacros que servem para testar o grau de operacionalidade dos meios existentes, e a capacidade de resposta dos mesmos em situações de emergência.

Entre nós, tem sido notória a falta desse género de exercícios, mas temos assistido às denominadas "feiras da vaidade", que consistem na exibição de meios e equipamentos de ponta por parte do SPCB.

À primeira vista, fica-se com a ideia de que os equipamentos e os meios ao dispor dessa instituição, de qualidade inquestionável e que em nada ficavam a dever aos seus congéneres europeus, têm sido usados nessas operações de assistência humanitária. Ledo engano!
Tirando o brilho das exposições, nada mais resta, senão a péssima qualidade do serviço prestado pelo SPCB.