Desde 1963, ano da fundação da Organização de Unidade Africana (OUA), até aos nossos dias, África passou de pelo menos 306 milhões de habitantes para os 1,46 bilião, dos quais mais de 60 por cento com idades inferiores a 25 anos.
Este crescimento populacional vem-se acentuando, desde a década de 50 do século XX, ou seja, desde o início das independências africanas, ultrapassando quase em dobro a média mundial, que é de 2,6 vezes. Desta forma, em 2050, dentro de menos de 30 anos, os africanos serão 25 por cento da população mundial.
Os referidos números mostram que África, o continente berço da Humanidade, é também o continente futuro e seguro da sobrevivência da Humanidade.
Neste contexto, a União Africana (UA), herdeira da OUA, ao celebrar 60 anos, estará, certamente, a olhar para os dados acima expostos e a equacionar soluções integradoras, a exemplo dos pan-africanistas fundadores da organização, nomeadamente Kwame Nkrumah, do Ghana, Sékou Touré (da Guiné Conackry), Abdel Nasser (Egipto), Ben Bella, (Argélia), Modibo Keita (Mali), entre outros.
Depois de bem-sucedida na conquista das independências políticas e no derrube do Apartheid, a organização pan-africana está hoje centrada no desenvolvimento e futuro do continente, que passa pela melhoria das condições de vida dos povos africanos, em que se inclui a estabilidade política, económica e social.
Para tal, o crescimento populacional é uma das variantes-chave a ter-se em conta nos planos e programas de desenvolvimento, sobretudo num momento em que na Europa se assiste a um acentuado decréscimo da população, consequência do seu envelhecimento demográfico.
A Europa tem uma população envelhecida e uma taxa de fecundidade de 1,52 (em África é de 4,45), numa população em que abundam os maiores de 65 anos e escasseiam crianças e jovens, um problema demográfico e económico que põe em risco a longo-prazo a sobrevivência das populações europeias.
Para tentar inverter o actual quadro, a Europa anunciou que precisa de milhões de imigrantes, para além de um conjunto de outras medidas políticas de incentivo à natalidade.
Só a Alemanha, o gigante europeu, necessita, anualmente, de mais de 400 mil imigrantes para suprir a carência de mão-de-obra que atinge o seu competitivo mercado de trabalho, segundo dados oficiais.
Perante isto, parece um paradoxo a forma desumana como são tratados os imigrantes africanos que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa em busca de sobrevivência humana e de direitos de dignidade humana que, infelizmente, o continente africano teima em não proporcionar aos seus filhos de forma igual, apesar dos imensos recursos naturais que possui.
África precisa de abandonar a miopia política e combater o espírito escravocrata dos que, directamente ou por omissão, permitem que o Mediterrâneo continue a ser o cemitério de muitos dos seus filhos, deixados morrer nessas duras travessias, como acontecia no tráfico transatlântico.
Tal como hoje, em 1963, a vida humana não era global. A hierarquização era e continua a ser feita em função da origem, uma realidade contra a qual a UA deve lutar, enquanto trabalha de forma integrada para oferecer condições dignas aos seus filhos, que são o motor do desenvolvimento do continente.
Fruto das crises mundiais, incluindo a crise do capitalismo, África volta a ser novamente uma região muito cobiçada e disputada por potências estrangeiras que buscam recursos energéticos e outros minérios indispensáveis ao modelo de sociedade capitalista e sobrevivência ocidental.
As constantes expedições para África de mandatários políticos da Europa, América e Ásia em busca de recursos naturais e humanos africanos prenunciam a preparação de nova divisão do continente, numa espécie de neo-Conferência de Berlim, em outros moldes.
Ver diariamente em África reis e rainhas, príncipes e princesas, duques e duquesas da política da Europa, América e Ásia, que só se deslocavam ao continente africano para tirar do poder pan-africanistas e em seu lugar colocar "troglolacaios" (expressão de um pan-africanista diaspórico), deve fazer soar as campainhas africanas.
Ver gente que dificilmente tolera poeira africana, suportar o cheiro a cadáver da governação de muitos dos seus aliados políticos africanos devia fazer acordar os intelectuais e políticos africanos, bem como toda a sociedade civil continental e mundial.
Gente patrocinadora de autocracias e ditaduras porque, para os predadores, é muito mais fácil negociar com e/ou dominar regimes totalitários que homens livres que colocam os interesses dos seus países, povos e continente acima de tudo.
Se uns dirigentes africanos começam a perceber o que está em causa, outros há que, embriagados com a única coisa grande que possuem, a sua própria pequenez, se convencem ou são convencidos de que essas imparáveis romarias resultam do reconhecimento da sua competência governativa. E, assim, fazem facilmente o papel de colaboracionistas.
A OUA nasceu de um parto muito difícil, "arrancado a ferros", devido às clivagens ideológicas entre as duas grandes facções, designadas por "Grupo de Casablanca", que incluía líderes como Kwame Nkrumah, Sékou Touré e "Grupo de Monróvia", com Leopold Senghor (Senegal), Houphouet Boigny (Costa do Marfim) e outros.
Os primeiros defendiam a unidade e a integração africanas através de uma federação para lutar pela libertação total, pelo desenvolvimento do continente e para proteger África dos apetites vorazes pelas suas riquezas. Por seu turno, os de Monróvia queriam apenas relações de cooperação entre os estados.
Por causa destas diferenças, que levaram anos a ser ultrapassadas, o acto constitutivo da OUA ficou conhecido como o "Milagre da Unificação" e analistas da época não davam sequer um ano de vida à organização continental.
O "Milagre" decorreu também da pressão resultante da criação, no ano anterior (1962), na Tanzânia, da Organização Pan-africana das Mulheres (OPM), com o objectivo, entre outros, de contribuir para a emancipação dos Povos africanos.
Processo liderado pela intelectual e política maliana Aoua Keta, a fundação da OPM, com participação de outras destacadas africanas como Winnie Mandela, da África do Sul, mulheres do PAIGC e da OMA (Organização das Mulheres Angolanas), braço feminino do MPLA, foi, certamente, um factor de pressão sobre os 32 homens que fundaram a OUA, a 25 de Maio de 1963.
À semelhança do que se passou em 1963, África tem de se erguer para atender ao bem comum, porque, hoje, como nunca, é urgente a integração para dar esperança e futuro aos jovens que, em muitos casos, preferem arriscar a vida nessas travessias perigosas, tal é a desesperança dentro de portas.
Balumuka (desperte), África, para que a emigração dos seus filhos jovens não se transforme num novo tráfico de escravizados.
Balumuka para a urgência da integração e defenda, a uma só voz, uma Nova Ordem Mundial (política, económica, social e até futebolística) contra qualquer subjugação e dominação dos seus povos e pilhagem das riquezas africanas.
Desperte também para que a juventude tome consciência do seu lugar na História e Cultura e faça do conhecimento outra riqueza do continente, oferecendo aos estudantes africanos de excelência a possibilidade de estudar nas melhores universidades continentais da África do Sul, Marrocos, Egipto, Quénia, Uganda, Senegal e outras como caminho para acesso ao conhecimento e investigação de ponta e para uma Epistemologia africana.
Para preparar essa juventude africana do século XXI, sem deixar ninguém para trás, priorize a Agricultura e a Educação com programas centrados na História e cultura continentais e integrador contra as desigualdades e discriminações de todo o género, promovendo os saberes, valores e patrimónios africanos.
Despertem, mulheres e homens líderes de África, lembrando que a mulher, principal pilar do desenvolvimento do continente, domina a educação e o processo de socialização das crianças e jovens, e, como responsável pela transmissão e promoção da cultura local, deve estar em todas as áreas da sociedade.

Balumuka, África, pela integração, contando com a Diáspora como seu embaixador de excelência, para evitar que o Continente se transforme "de novo em campo de batalha" das potências mundiais, como alerta o académico moçambicano Severino Ngoenha, ou num "corpo inerte onde cada abutre vem debicar o seu pedaço", segundo Agostinho Neto.